O vínculo fundamental e a base de
toda civilização é o casal humano. É este laboratório das relações humanas que
gera vida e energia. Ele produz, literalmente, os cidadãos do futuro. E, ao
fazer isso, ele segue os padrões cármicos, as estruturas e os hábitos que o
caracterizam em cada etapa da evolução.
Basta observar o estado do casal em uma sociedade qualquer para ver a situação
em que está o processo social. Deste fato elementar surge uma conclusão
prática: a construção de casais em que haja um amor verdadeiro abre espaço para
a civilização da fraternidade universal que já começa a surgir.
A capacidade de amar e o conhecimento da verdade são dois fatores inseparáveis.
Eles não só produzem as civilizações saudáveis, mas também as sustentam ao
longo do tempo. A civilização do futuro será baseada na inteligência
espiritual.
Nos termos de “A Doutrina
Secreta”, de H. P. Blavatsky, a meta do esforço teosófico é fazer nascer a
mente elevada e fraterna que caracterizará a sexta sub-raça da quinta
raça-raiz. Escrevendo no século 19, a fundadora do movimento esotérico moderno
afirmou que já podia ver indivíduos pioneiros antecipando a humanidade
intuitiva e universalista da sexta sub-raça.
Mais de
um século depois de Blavatsky, os estudantes e cidadãos de boa vontade do
século 21 têm o privilégio de investigar, passo a passo, como será o casal buddhi-manásico
e universal das próximas civilizações. O estudo da teosofia original permite
deduzir algumas das suas características.
É verdade
que o esforço do século 21 é probatório: não faltam testes ou desafios. Mas já
é possível construir a vitória. O casal do futuro estará unido no plano do
sexto princípio, Buddhi. Os eus superiores do homem e da mulher que se amam com
força atuarão fundamentalmente como se fossem um; mas preservarão ao mesmo
tempo um grau significativo de diferença. Assim, a unidade será dinâmica e
criativa, ajudando a transformar o mundo para melhor. O amor existirá assim na
terra como no céu: aquilo que foi unido no plano da alma espiritual também
expressará unidade na vida concreta e palpável. Cada casal consciente será uma
ponte segura entre o superior e o inferior. Combinará em si o eterno e o
transitório. O homem verá a mente e o coração da mulher como partes de um
templo sagrado, e a atitude será recíproca. As emoções e o corpo físico serão
parte deste santuário compartilhado. Ainda que o foco prioritário do casal do
futuro esteja localizado no plano do eu imortal, o amor será intenso no
plano do eu inferior. O casal será setenário. Existirá simultaneamente em sete
níveis de consciência e integração.
Haverá,
nível por nível, um alinhamento entre as duas consciências. A correspondência e
o paralelismo entre os sete princípios de cada um incluirá Prana, o
princípio da vitalidade, e Linga-sharira, o arquétipo sutil por onde
flui a energia vital. Aquilo que afetar um, afetará o outro. As auras do homem
e da mulher funcionarão como se pertencessem uma à outra, e estarão em forte
ressonância magnética durante as 24 horas do dia.
Ao serem
expressados em palavras, pensamentos e sentimentos de cada um surgirão na
consciência do outro de dentro para fora, e não de fora para dentro. Escutar a
pessoa amada será como escutar a si mesmo - com a diferença de que
frequentemente será mais agradável.
O amor e o afeto não dependerão de condições externas. O casal estará unido
tanto nas marés fáceis como nas marés difíceis da vida. O fato de que o foco da
vida estará situado no plano da alma imortal, onde reina o altruísmo, levará os
dois a trabalhar pela causa da Humanidade.
Na
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. A predominância do
casal sábio está por surgir no futuro próximo da evolução humana, mas essa não
é a primeira vez que isso ocorre. O tempo é cíclico, e o amor do futuro já
existiu no passado. O alvorecer da era de Aquário torna possível resgatar a
sabedoria das eras anteriores. O amor pessoal já pode ser vivido outra vez como
parte do amor universal e infinito, conforme anunciava na Índia antiga o
“Brihadaraniaka Upanixade”:
“Não é
por causa do marido em si que o marido é amado, mas é pela presença do Espírito
Universal na consciência do marido, que ele é amado. Não é por causa da esposa
em si que a esposa é amada, mas é devido à presença do Espírito Universal na
consciência da esposa, que ela é amada. Não é por causa dos filhos em si que os
filhos são amados; é pela presença do Espírito Universal na consciência dos
filhos, que eles são amados.” [1]
Em todos os povos, nas mais variadas épocas, os membros de um casal sempre
colocaram suas vidas nas mãos um do outro.
No
futuro, homens e mulheres saberão cumprir com eficiência o dever de gerar a
felicidade do ser amado, e de abster-se de gerar sofrimento.
A
satisfação de cada um surgirá em primeiro lugar do ato de fazer o outro tão
feliz quanto possível, nos diversos níveis de consciência. Em segundo lugar, a
sensação de plenitude virá do ato de preservar e expandir a felicidade de quem
amamos, dentro daquilo que é permitido pelas condições práticas do trabalho
pelo bem da humanidade.
Cada um
refletirá, como um espelho, as possibilidades mais sagradas e mais elevadas do
outro. Assim, o casal reconhecerá seu afeto a dois como parte do processo maior
da compaixão universal.
A semente
do futuro germina hoje: o casal da próxima civilização já existe como
experiência pioneira. Pesquisar a natureza do amor universal é uma bênção que
está ao alcance das gerações atuais. A energia regeneradora do casal do futuro
é um dos fatores aceleradores do despertar planetário que estamos vivendo.
Um Mestre
de Sabedoria escreveu no século 19:
“A pureza
do amor terreno purifica e prepara para a realização do Amor Divino. Imaginação
humana alguma pode conceber os ideais da divindade a não ser através daquilo
que lhe é familiar. Aquele que se prepara para compreender o Infinito deve
compreender antes o finito.”
Em outra
oportunidade, o mesmo sábio afirmou:
“...Onde um amor verdadeiramente
espiritual busque consolidar-se através de uma união pura e permanente de duas
pessoas, no sentido terreno, não há pecado nem crime aos olhos do grande Ain-Soph
[2], pois esta é somente a repetição divina dos princípios Masculino e
Feminino - o reflexo microcósmico da primeira condição da Criação. Diante de
uma tal união os anjos bem poderão sorrir! Mas uniões como essas são raras,
Irmão meu, e podem ser criadas apenas sob a sábia e amorosa supervisão da Loja
(...)”.[3]
No
futuro, este processo pioneiro será cada vez menos raro.
Unidos
nos planos da alma eterna e da inteligência universal, o homem e a mulher não
dependerão da presença física para sentir que estão juntos. A presença de cada
um na aura do outro será perceptível mesmo quando estiverem geograficamente
distantes. Havendo necessidade, saberão manter a relação de casal num estado
“implícito” e concentrarão por um ato de vontade a sua energia recíproca no
foco superior do afeto, enquanto desempenham impessoalmente os deveres
propostos pelo Carma. Cessada a necessidade, eles deixarão que a energia do
amor se irradie outra vez livre e criativamente. Ela se manifestará como uma
versão microcósmica da luz do Sol, avançando através dos sete planos da vida e
irradiando uma força benéfica na direção de todos os seres.
Um sábio
oriental escreveu:
“A mulher
não deve ser vista simplesmente como uma propriedade do homem, já que ela não
foi feita apenas para seu benefício ou prazer, assim como ele não é apenas
propriedade dela. Os dois devem ser compreendidos como energias iguais, que
fluem por individualidades diferentes. Até a idade de sete anos, os esqueletos
das meninas não diferem de forma alguma dos esqueletos dos garotos, e o
osteólogo teria dificuldade em identificá-los. A missão da mulher é tornar-se a
mãe dos futuros ocultistas - daqueles que nascerão sem pecado. A redenção e a
salvação do mundo dependem da elevação da mulher. E enquanto a mulher não
romper os laços da sua escravidão sexual, à qual tem sido sempre submetida, o
mundo não terá ideia do que ela realmente é, ou do verdadeiro lugar dela na
economia da natureza.”
E o
Mestre concluiu:
“A luz
que será derramada sobre esta questão e sobre o mundo como um todo, quando o
mundo descobrir e realmente apreciar as verdades que estão na base do vasto
problema do sexo, será como ‘a luz que jamais brilhou sobre o mar ou a terra’,
e terá de vir aos seres humanos através do movimento teosófico. [4] Esta
luz levará ao despertar da verdadeira intuição espiritual. Então o mundo
terá uma raça de Buddhas e Cristos, porque a humanidade terá descoberto que os
indivíduos têm dentro de si mesmos a possibilidade de gerar crianças
semelhantes a Buddha - ou demônios. Quando este conhecimento vier, todas as
religiões dogmáticas, e com elas os demônios, deixarão de existir.” [5]
As
palavras acima merecem ser examinadas com atenção. Elas convidam os casais de
boa vontade a investigar de modo prático e transcendente - assim no nível
físico como no plano metafísico - o mistério da felicidade a dois.
Uma tal
investigação é eficaz quando colocada a serviço da libertação humana. Porque a
vida é um laboratório alquímico, e, nele, o casal produz um fogo criador do
futuro.
NOTAS:
[1] “The Principal Upanishads”, edited by S.
Radhakrishnan, The Muirhead Library of Philosophy, London: George Allen &
Unwin Ltd, Fourth Impression, 1974, ver pp. 282-283.
[2] Ain-Soph - na tradição da
Cabala, o princípio Absoluto e imanifestado.
[3] Cartas 18 e 19, segunda série, no
volume “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Editora Teosófica, Brasília. Veja as
pp. 189 e 190.
[4] Movimento teosófico; no original,
“Sociedade Teosófica”. A expressão se refere à Sociedade Teosófica original,
que deixou de existir pouco depois da morte de H. P. Blavatsky, em 1891, devido
à traição de Annie Besant e outros pseudo-esoteristas que desprezaram a ética e
a verdade. Hoje, existe um movimento teosófico amplo e marcado pela
diversidade.
[5] “The Paradoxes of the Highest Science”, de
Eliphas Levi, “With Foot-Notes By a Master of the Wisdom”, Theosophical
Publishing House, Adyar, Madras (Chennai), India, 1922, 172 pp., ver p. 172. Título da edição brasileira
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Leia também os textos “O Casal
Como Centro da Civilização”, e “Transformar uma Casa num Templo”.
Ambos estão disponíveis em www.FilosofiaEsoterica.com e websites associados.
Para ter acesso a um estudo diário
da filosofia esotérica original, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte
como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
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