sábado, 27 de abril de 2013

Nazismo, Democracia e Teosofia



Uma Seleção de Textos Sobre Temas Polêmicos

Os Editores

 

Na foto, imagem do interior de uma sinagoga. A
sabedoria judaica tem pontos centrais em comum com a teosofia

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Os artigos a seguir podem ser encontrados
através da Lista de Textos por Ordem Alfabética
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1) A Teosofia da Civilização Futura
O Movimento Esotérico Autêntico Está Plantando as Bases de Uma Sociedade Justa
Carlos Cardoso Aveline

2) O Inquisidor (poema)
A Lógica da Violência, Quando é Usada pelo Fanatismo
Augusto de Lima


3) A Teosofia e a 2ª Guerra Mundial
O Nazismo, o Fascismo e o Movimento Teosófico Durante o Século Vinte
Carlos Cardoso Aveline

4) O Significado da Suástica
Os Criminosos Nazistas Tentaram Distorcer Conceitos da Filosofia Oriental
Joaquim Soares

5) 
Informe Sobre Jung e a Teosofia
Erich Fromm, Carl Jung e a Ética Universal
Carlos Cardoso Aveline


6) A Teosofia e o “Bardo Thodol
Examinando a Afinidade de Carl G. Jung com uma Seita Tibetana
Carlos Cardoso Aveline

7) Freud, Jung e a Religião
Erich Fromm Resgata  a  Ética  Universal e Mostra Que a Obra de Jung Não Tem Alicerces
Erich Fromm

8) Jung Escreve Contra Teosofia
Pensador Procurava Negar os Princípios da Ética, da Filosofia Esotérica e da Sabedoria Oriental

Carlos Cardoso Aveline

9) Carl Jung, a Ética e a Psicologia
Carl Jung, a Ética e a Psicologia
Erich Fromm
10) O Racismo em Nome da Teosofia
Sociedade de Adyar Já Pode Abandonar as Ideias Pré-Nazistas de Besant e Leadbeater
Carlos Cardoso Aveline

11) 
Leadbeater Diz Que Matou Brasileiros
Falso Clarividente Afirma Haver Matado Pessoas de “Raças Inferiores” no Brasil
Carlos Cardoso Aveline

12) Onze Aforismos da Tradição Judaica
Refletindo Sobre Fragmentos da Teosofia Universal
Carlos Cardoso Aveline

13) Duas Orações pela Paz
A Essência Universal da Tradição Judaica
Carlos Cardoso Aveline

14) A Visão Planetária de Barack Obama
Presidente dos Estados Unidos Aplica Princípios da Teosofia Clássica
Carlos Cardoso Aveline
15) A Aprendizagem de Barack Obama
Estudando o Mecanismo do Ódio Para Eliminar As Suas Causas
Carlos Cardoso Aveline

16) A Árvore da Fraternidade UniversalAlguns Parágrafos Sobre a Transição para o Novo Ciclo
Helena P. Blavatsky

17) Blavatsky, ONU e Democracia
Compreendendo uma “República de Consciência”
Carlos Cardoso Aveline

18) O Islamismo é Maior Que a Violência
Guerra, Ilusão e Sabedoria nas Religiões Monoteístas
Carlos Cardoso Aveline

19) O Poder de SugestãoDespertar do Discernimento Rompe a Dominação Hipnótica da Mente Desatenta
Robert Crosbie

20) Meditando Pelo Despertar do Brasil
Como a Força Criadora da Mente Constrói a Civilização do Futuro
Carlos Cardoso Aveline

21) Meditando Pelo Despertar de Portugal
Como a Força Criadora da Mente Constrói a Civilização do Futuro
Carlos Cardoso Aveline

22) Meditação pelo Despertar PlanetárioComo a Força da Mente Humana Cria a Civilização da Fraternidade Universal
Carlos Cardoso Aveline

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Os textos citados acima estão disponíveis online através da  Lista de Textos por Ordem Alfabética, em  www.FilosofiaEsoterica.com .  

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Um Engano no Livro “Ocultismo Prático”



 
Volume Inclui Texto Que Não é de Helena P. Blavatsky
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
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O texto a seguir foi publicado pela 
primeira vez sem indicação de nome 
de autor, na edição de novembro de 
2010 do boletim eletrônico “O Teosofista”. 
 
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Todo peregrino sabe que a caminhada espiritual  inclui inúmeras ilusões e armadilhas. Por isso deve-se ter atenção crescente a cada novo trecho do caminho.   
 
Algumas armadilhas são internas. Outras são externas. Todas são sutis.  Parte das armadilhas externas está na própria literatura que circula como sendo “teosófica”.  Isso ocorre porque, tendo abandonado o caminho estreito da verdade, a Sociedade de Adyar desenvolveu uma notável falta de atenção em suas práticas  editoriais, e cometeu erros sem conta nas obras que publicou desde a morte de Helena Blavatsky em 1891.[1] As consequências atingem o conjunto do movimento esotérico e o grande público. 
 
Uma das seções em inglês do website  www.FilosofiaEsoterica.com  reúne uma coletânea de textos que documentam os principais erros editoriais que ainda hoje atrapalham a literatura teosófica, iludindo estudantes em todo o mundo.  A distorção do texto de “A Doutrina Secreta” nos anos 1890 por parte de Annie Besant  é um exemplo entre  muitos. A versão de Annie Besant ainda é a edição de “A Doutrina Secreta” que predomina em mais de um idioma, embora a própria Sociedade de Adyar já a tenha abandonado em inglês desde 1979. O projeto de publicar em português a edição original desta obra máxima da literatura filosófica é um desafio presente na agenda do e-grupo SerAtento e da loja luso-brasileira da Loja Unida de Teosofistas.  
 
Outro exemplo prático  desta política editorial pouco séria está no pequeno volume “Ocultismo Prático”, publicado em língua portuguesa pela Editora Pensamento, de São Paulo, e pela editora Teosófica, de Brasília. O volume inclui, como se fosse de Helena Blavatsky, o texto “Algumas Sugestões Práticas para a Vida Diária”.  Seu autor, no entanto, não é a sra. Blavatsky. Além disso, o texto contém ideias falsas e que levam os estudantes à confusão.
 
Os outros dois textos do volume publicado sob o título de “Ocultismo Prático” são, efetivamente, de H.P.Blavatsky. Eles são os artigos “Ocultismo Prático”, que dá título ao volume, e “Ocultismo VersusArtes Ocultas”.  O longo texto “Algumas Sugestões Práticas para a Vida Diária”, no entanto,  não só não foi escrito pela sra. Blavatsky como, em vários pontos,  cai no terreno pantanoso da pseudo-teosofia neocristã.
 
Logo no primeiro parágrafo, o  texto aconselha o leitor:
 
“Levanta cedo, logo que tenhas despertado, sem ficar deitado  indolentemente na cama, meio sonolento e meio desperto. Então reza com fervor pedindo para que toda a Humanidade possa ser regenerada espiritualmente, que aqueles que estão lutando no caminho da verdade  possam ser encorajados por tuas preces, que trabalhem com mais ardor e que obtenham sucesso, e que tu possas ser fortalecido e não ceder às seduções dos sentidos.  Imagina mentalmente a figura de teu Mestre em estado de Samadhi. Fixa essa imagem diante de ti, preenche-a com todos os detalhes, pensa nele  com reverência, e reza para que todos os erros de omissão e  comissão possam ser perdoados. Isso facilitará grandemente a  concentração, purificará o teu coração, e muito mais.” [2]
 
Ocorre que, em teosofia, não se recomenda rezar. H. P.Blavatsky abordou o tema no capítulo quinto da sua obra “A Chave da Teosofia”.  Ao fazer preces, o devoto toma uma atitude passiva, optando pela irresponsabilidade cármica. Na verdade, cabe ao aprendiz desenvolver uma vontade ativa e criativa, e plantar o carma que ele deseja colher. É uma ingenuidade pedir ou fazer preces para que isso ou aquilo ocorra. No discipulado e na aspiração ao discipulado, é inadmissível pedir favores a algum Mestre, e muito menos esperar que o perdão de um Instrutor remova as consequências dos erros cometidos. O parágrafo citado do texto coloca o suposto Mestre na posição lamentável de um padre ouvindo a confissão de alguém.
 
O discípulo e o aspirante ao discipulado devem assumir a responsabilidade pelos seus próprios erros. Devem tratar de eliminar as suas consequências, no que for possível, e sobretudo as suas causas, para que os erros não se repitam no futuro. O aprendiz não deve tentar transferir  a responsabilidade para algum Mestre, pedindo “perdão” e assim lavando as mãos em relação à responsabilidade pelo que fez. Ao invés disso, o aspirante deve agir corretamente para que sua própria consciência interna o aprove; ou para eliminar as razões de alguma desaprovação que sinta em sua consciência mais profunda. O papel do Mestre não é fazer favores pessoais ou distribuir absolvições. Cabe ao Mestre dar elementos para que o aprendiz trabalhe com autonomia e eficiência, produzindo sua auto-libertação através do auto-conhecimento, da auto-responsabilidade e do caminho do altruísmo.
 
O alerta sobre esta bem intencionada falsificação editorial de Adyar é oportuno para evitar que os estudantes sejam desorientados pelo texto “Algumas Sugestões Práticas para a Vida Diária”.
 
A responsabilidade dos editores em língua portuguesa limita-se ao fato de que traduziram o volume editado originalmente em inglês.  No entanto, nada impede que sejam tomadas medidas práticas, por parte dos editores, para a correção deste erro em nosso idioma. 
 
Um simples exame do texto mostra que ele é uma coletânea de parágrafos tirados de várias publicações. Os pesquisadores canadenses Ernest Pelletier e Ted G. Davy alertam para o fato de que estas transcrições não são nem mesmo fieis aos seus respectivos originais, o que compromete o seu valor como citações. O teosofista norte-americano Dallas Tenbroeck, associado da Loja Unida de Teosofistas,  também fez pesquisas reveladoras a respeito. [3]  
 
 
NOTAS:
 
[1] A Loja Unida de Teosofistas, LUT,  e a Sociedade  Teosófica de Pasadena preservaram a literatura original.  O setor mais lúcido de Adyar seguiu, em parte, o exemplo dado especialmente pela LUT. Em língua espanhola, a Fundación Blavatsky, do México, faz um bom trabalho. Mas, globalmente, é sobretudo a LUT que mantém a chama acesa. 
 
[2] “Ocultismo Prático”, Helena Blavatsky, Ed. Teosófica, Brasília, edição de bolso, 208 pp., ver pp. 13-15.  Veja também “Ocultismo Prático”, H. P. Blavatsky, Ed. Pensamento, SP, pp. 51-79. A primeira edição em língua inglesa desse volume é de 1948. A sua oitava impressão foi realizada em Adyar, Índia, em 1989, e tem 106 páginas em formato de bolso, sob o título “Practical Occultism”. Ali, o texto falsamente atribuído a H.P. Blavatsky aparece às pp. 63-106.
 
[3]  O teosofista norte-americano Jerome Wheeler ajudou a levantar dados. As análises de Ernest Pelletier, Ted  G. Davy, Jerome Wheeler e Dallas Tenbroeck foram repassadas individualmente ao autor da presente nota no segundo semestre de 2005.
 
 
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Texto originalmente publicado em www.Filosofiaesoterica.com
 
 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A Arte de Encontrar o Equilíbrio



 


Alguns Passos Para Ampliar a

Harmonia Com Nosso Eu Superior

 

 

Steven H. Levy, M. D.

 

 

 

 

 

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O artigo a seguir foi publicado inicialmente

em inglês na edição de março de 2013 de “The

Aquarian Theosophist”. Título original: “The

Art of Living: Finding Balance”.  Steven H. Levy,

M. D., é associado da Loja Unida de Teosofistas,

LUT, em Filadélfia, Pensilvânia, nos Estados Unidos.

 

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Carma é a lei invariável e universal da Natureza, a lei que recupera a harmonia e o equilíbrio. O caminho para alcançar equilíbrio em nossas vidas inclui o estudo das leis da Natureza e o esforço para viver de acordo com elas. Para manter o equilíbrio é necessário trilhar um caminho de ação com base no cumprimento contínuo do dever, segundo a nossa compreensão do carma.

 

A natureza física em si mesma é tão vasta que pode parecer impossível compreender as suas leis. Mas os segredos da natureza são visíveis e estão manifestados bem diante de nós e em nosso interior. Se o Ser Humano é uma miniatura do Universo, segue-se que é válido o aforismo “Assim na Terra como no Céu”.

 

Os segredos da Natureza e as chaves que permitem encontrar equilíbrio estão dentro de nós. Eles podem ser conhecidos e usados se cultivarmos a prática do auto-estudo. E isso deve ser acompanhado da prática da autodisciplina.

 

Ao olhar para o nosso interior, sabemos imediatamente o que significa ter equilíbrio. A harmonia no mundo externo corresponde à tranquilidade interior. O equilíbrio emocional existe quando não há as tensões da raiva, do ciúme, ou da angústia. A tranquilidade interna também existe quando nossos sentimentos de alegria e prazer não são extremos.

 

Alguns acontecimentos estão aparentemente fora do nosso controle e perturbam nossa tranquilidade interior. Há pensamentos, desejos e ações que estão sujeitos ao nosso controle e tanto podem perturbar como recuperar e manter o nosso equilíbrio interior. A vida interna não é apenas o âmbito em que começamos a entender as leis da natureza: é na vida interna, também, que começamos a ganhar autocontrole e a alcançar o equilíbrio. A teosofia - a sabedoria acumulada por gerações incontáveis de sábios - ensina o caminho para fazer isso.

 

Quando conduzimos nossa vida interior e cumprimos nossos deveres externos preservando a harmonia com nosso Eu Superior, que é o Eu Único em todos e em cada um, então vivemos em harmonia com todos os seres. Viver em harmonia com nosso Eu Superior exige que reconheçamos a unidade espiritual e a identidade de todos os seres com o Único Ser, ou Absoluta Divindade. Um pré-requisito deste reconhecimento é a compreensão da ideia de que não estamos separados, e que, portanto, a separatividade ou egoísmo devem ser evitados em todas as suas expressões.

 

Esta é apenas metade do nosso dever. A outra metade é o cultivo do altruísmo em pensamento, na fala, e nas ações. Quando começamos a verificar, testar e comparar este ensinamento com a nossa experiência prática, a vida interna se transforma em um laboratório onde podemos observar o processo do equilíbrio emocional, ou onde é possível ver o surgimento da perturbação, se nos afastarmos do nosso dever.

 

 

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Artigo originalmente publicado em www.FilosofiaEsoterica.com .
 
 
 

sábado, 20 de abril de 2013

O Paraíso e a Utopia Brasileira




Uma Tarefa de Síntese Entre Céu e Terra
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
Desembarque no Brasil em 1500
 
 

Cada nação moderna foi criada – assim como as nações antigas – em torno de um arquétipo ou sonho de sociedade perfeita. Antigamente, atribuía-se aos reis funções divinas. Desde a revolução francesa, o modelo de perfeição social passa pelas idéias de liberdade, igualdade e fraternidade.
 
O Brasil não é exceção. Assim como as outras colônias européias do Novo Mundo, nosso país surge desde o primeiro momento sob o signo de uma forte expectativa utópica por parte dos “descobridores”.
  
Ao chegar pela primeira vez às terras do Novo Mundo, os europeus do final do século 14 e começo do século 15 esperavam − e temiam − estar desembarcando literalmente no Paraíso terrestre. Sérgio Buarque de Holanda abordou o tema em uma obra em que estuda a influência do mito do paraíso na história do Brasil. Ele escreveu:
 
“Sabe-se que para os teólogos da Idade Média o Paraíso Terreal não representava apenas um mundo intangível, incorpóreo, perdido no começo dos tempos, nem simplesmente alguma fantasia vagamente piedosa, e sim uma realidade ainda presente em sítio recôndito, mas porventura acessível. Desenhado por numerosos cartógrafos, afincadamente buscado pelos viajantes e peregrinos, pareceu descortinar-se, enfim, aos primeiros contatos dos brancos com o novo continente. (...) Não admira que, em contraste com o antigo cenário familiar de paisagens decrépitas e homens afanosos, sempre a debater-se contra uma áspera pobreza, a primavera incessante das terras recém-descobertas deve surgir aos seus primeiros visitantes como uma cópia do Éden. Enquanto no Velho Mundo a natureza avaramente regateava suas dádivas, repartindo-as por estações e só beneficiando os previdentes, os diligentes, os pacientes, no paraíso americano ela se entregava de imediato em sua plenitude, sem a dura necessidade – sinal de imperfeição – de ter de apelar para o trabalho dos homens. Como nos primeiros dias da Criação, tudo aqui era dom de Deus, não era obra do arador, do ceifador ou do moleiro”. [1]
 
Sim, o Brasil era uma terra abençoada por natureza.
 
Mas o capitalismo mercantil e a economia colonial se encarregaram de deixar a um lado, como uma experiência marginal, os sonhos utópicos. As culturas indígenas passaram a ser massacradas. A natureza era tratada, na prática, como se fosse apenas um amontoado de recursos naturais que jamais se esgotariam. Nesse contexto difícil, as Missões Jesuíticas - que reuniram índios guaranis em uma sociedade solidária em território que hoje pertence a Argentina, Paraguai e Brasil - são uma experiência histórica contraditória de busca da sociedade ideal. Nos séculos 17 e 18, essa “República Comunista dos Guaranis” foi um ensaio utópico complexo, tendo sido utilizado pelos jesuítas para seu próprio projeto de poder mundial teocrático. 
 
A inconfidência iluminada
 
A busca da sociedade solidária ganha novas forças na segunda metade do século 18, com a idéia de lutar pela independência do Brasil.
 
O movimento da Inconfidência é criado e alimentado pelos poetas mineiros do século 18, que recebiam, àquela altura, três influências principais:

1. Eles estavam influenciados pelo iluminismo europeu, cujo enfoque não era apenas filosófico. Uma forte consciência social, crítica e agressivamente irônica, como a de Voltaire, aparece, por exemplo, nas famosas Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga.
 
2. Por outro lado, havia a forte influência política da revolução norte-americana de 1776. Tudo parecia possível.
 
3. Finalmente, estava presente a inspiração do arcadismo, uma tendência cultural européia que possuía forte sabor grego clássico, incluindo o culto à natureza.
 
A Arcádia é uma região montanhosa localizada no Peloponeso, uma península no sul da Grécia.  Na Arcádia vivia o deus dos bosques e da natureza – Pã. É uma região dedicada à poesia e às artes. Conta a tradição que ali nasceu Zeus, o chefe do Olimpo.
 
A Enciclopédia Britânica de 1967 destaca que essa região montanhosa e seu povo não chegavam à costa. O povo vivia geograficamente isolado do resto da Grécia (característica que no contexto brasileiro se pode atribuir, pelo menos em parte e no sentido cultural, às cidades históricas de Minas Gerais). O isolamento em região montanhosa e a harmonia com a natureza – a vida pastoril – colaboraram para que a poesia clássica grega e romana descrevessem a Arcádia como um paraíso.
 
O arcadismo surge em Roma em 1690 e se expressa através de sociedades literárias cujos poetas  priorizam descrever a vida simples do campo. No século 18, o arcadismo tinha grande força no mundo português.
 
Assim, na poesia Inconfidente da segunda metade do século 18 os temas clássicos são uma prioridade. Os deuses gregos são presenças constantes. A Arcádia é o Paraíso, e o Brasil é uma estranha mistura de paraíso indígena com mercantilismo europeu. A idéia da independência surge mais como um sonho de poetas do que como um projeto político-militar maduro. Esse sonho é, de um lado, um exercício literário, uma licença poética, um desdobramento do esforço criativo no mundo da poesia. De outro lado, ele é uma revolta popular específica contra o abuso na cobrança de impostos.
 
Quando ocorre a chamada Inconfidência, espera-se de algum modo que a Independência – assim como a Nova Jerusalém do Novo Testamento – desça dos céus espontaneamente e sem necessidade de muito esforço.
 
A iluminação da mente resultava na tentativa espontânea de iluminar a sociedade. A consciência, expandida, tinha a coragem de sonhar com a utopia da solidariedade e da liberdade dos povos. Nada melhor que isso. Só faltava maturidade política e estratégica.

A Arcádia brasileira não criou a independência, e aparentemente fracassou, mas foi ali que nasceu de certo modo a alma brasileira madura. Foi na região montanhosa das Minas que surgiu o sonho da independência – e, desde aquele momento, a independência formal passou a ser uma questão de tempo.
 
Mais de 200 anos depois, ainda temos pelo menos duas grandes lições a aprender com a experiência dos Inconfidentes. Uma delas é o fato de que uma sociedade sustentável deve, sim, surgir dos nossos sonhos. Deve ser resultado da expansão da nossa consciência em direção ao infinito. Mas, ao mesmo tempo – e essa é uma segunda lição –, o sonho precisa ter sua âncora e seu alicerce na vida material cotidiana, com um projeto durável, bem feito, estrategicamente maduro, cujos pés estejam bem plantados no chão. Isso não foi possível em 1789 em Vila Rica do Ouro Preto, mas é possível agora em qualquer lugar do Brasil.
 
Na primeira parte do século 21, a tensão criadora do sentimento utópico continua mais viva do que nunca no povo brasileiro. Ela provoca fatos materiais significativos, como a economia solidária e outras ações de renovação cultural. Mas ela atua em pequena escala e sem chamar grande atenção. Isto tem de ser assim porque, afinal, tudo o que será grande – se for inovador e pretender durar –  deve começar  em uma dimensão modesta, observando e corrigindo seus erros e avançando gradualmente.
 
 
NOTA
 
[1] “Visão do Paraíso”, de Sergio Buarque de Holanda, Editora Brasiliense, São Paulo, SP, quarta edição, 367 pp., ver pp. IX e X, no prefácio à segunda edição.


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Artigo originalmente publicado em www.FilosofiaEsoterica.com .