Toda Atividade Construtiva é um
Sentimento de Afeto Que se Torna Visível
Khalil Gibran
...Então um
lavrador disse [ ao Profeta ] : “Fale sobre o Trabalho.”
E
ele respondeu dizendo:
“Vocês
trabalham para manter-se em contato com o ritmo da terra e a alma da terra.
Porque
ser preguiçoso é estar afastado das quatro estações e separar-se da marcha da
vida, que avança com orgulhosa submissão, majestosamente, no rumo do infinito.
Quando
vocês trabalham, são como uma flauta através de cujo interior o murmúrio das
horas é transformado em música.
Quem
de vocês gostaria de ser um junco, surdo e silencioso, quando todos os outros
cantam juntos em harmonia?
Vocês
sempre ouviram dizer que o trabalho é uma maldição, e o esforço, uma
infelicidade.
Mas
eu digo que quando trabalham vocês cumprem uma parte do sonho mais elevado da
terra, destinada a vocês quando aquele sonho nasceu.
E,
sustentando-se graças ao esforço, vocês estão, na verdade, amando a vida.
E
amar a vida através do trabalho é estar interiormente ligado ao mais íntimo dos
segredos da terra.
Mas
se em seu sofrimento vocês chamam o nascimento de aflição, e consideram o ato
de sustentar a vida como uma maldição escrita em suas testas, eu respondo que
só o suor dos seus rostos lavará e apagará aquilo que está escrito.
Disseram
a vocês que a vida é escuridão; e, no seu cansaço, vocês repetem aquilo que os
cansados disseram.
E eu
digo que a vida é, de fato, escuridão, exceto quando há um impulso, e que todo
impulso é cego; exceto quando há conhecimento.
E
todo conhecimento é vão; exceto quando há trabalho; e todo trabalho é vazio;
exceto quando há amor; e quando vocês trabalham com amor vocês se unem a si
próprios, e uns aos outros, e a Deus. [1]
E
o que é trabalhar com amor?
É
fazer o tecido a partir de fios que saem do seu coração, como se a pessoa que
vocês mais amam fosse usar aquela roupa.
É
construir cada casa com afeto, como se o ser amado fosse viver ali.
É
plantar sementes com ternura, e fazer a colheita com alegria, como se a pessoa
mais amada fosse comer os frutos.
É
colocar em todas as coisas que vocês produzem o alento do seu próprio espírito,
e saber que os mortos abençoados estão em torno de vocês, e observam o seu
esforço.
Ouço
com frequência vocês dizerem, como se falassem durante o sono: “Aquele que
trabalha com mármore, e encontra na pedra a forma da sua própria alma, é mais
nobre que aquele que lavra o solo. E aquele que captura o arco-íris e o coloca
na roupa dos seres humanos é melhor que aquele que produz as sandálias para os
nossos pés.”
Mas
eu digo - não adormecido, e sim com a extrema lucidez da hora do meio-dia
- que o vento não fala com mais ternura para os carvalhos gigantescos do
que para a menor das folhas de erva.
E
grande é apenas aquele que transforma a voz do vento em uma canção mais doce,
através da sua própria capacidade de amar.
O
trabalho é amor feito visível.
E
se vocês não puderem trabalhar com amor, mas somente com desgosto, será melhor
que abandonem seu trabalho e se sentem à porta do templo, e que peçam esmolas
daqueles que trabalham com um sentimento de felicidade.
Pois
se prepararem o pão com indiferença, vocês farão um pão amargo que só eliminará
metade da fome do ser humano. E se espremerem a uva com má vontade, a má
vontade estará presente no vinho como um veneno. E ainda que cantem como anjos,
se não amarem o ato de cantar, estarão tapando os ouvidos das pessoas, e elas
não poderão ouvir as vozes do dia e as vozes da noite. [2]
NOTAS:
[1] Em Teosofia, o termo
“Deus” não tem como significado alguma divindade monoteísta. A
palavra só faz sentido quando significa a Lei Universal. (CCA)
[2] O texto acima foi traduzido da obra “The Prophet”,
by Kahlil Gibran, Senate, Singapore, 2004, 114 pp., ver pp. 32-35.
Tradução, Carlos Cardoso Aveline. Em português, existem boas
traduções dos livros de Gibran, feitas por Mansour Challita.
0000000000000000000
Para ter
acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br e
pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.