sábado, 29 de outubro de 2011

Afinal, o que é mesmo uma universidade?
A universidade enquanto conceito reserva muito elementos utópicos, no entanto o homem moderno possui extrema dificuldade em pensar analisar estes elementos através da reflexão crítica. Parece que a rapidez da modernização científica e tecnológica força o esquecimento do ideal de universidade enquanto projeto a ser pensado. A racionalidade no universo acadêmico deve voltar-se a fortalecer as questões humanísticas para que não deixe a universidade se perder nas amarras do discurso alienado que se volta para as questões econômicas do sistema capitalista, o qual quer transformar a educação, o bem mais precioso da humanidade em mercadoria.
O conceito de acadêmico pressupõe o conceito filosófico, pois segundo Pieper, “(...) um estudo sem filosofia não é um estudo acadêmico”. Para uma universidade que tem o estudo voltado para os objetivos práticos, não basta apenas ter uma disciplina filosófica em seu currículo, mas que pense ser necessário algo mais do que pura necessidade e preocupação com a rapidez tecnicista do resultado útil e imediato.Segundo Arnildo Pommer: “a academia não pode ser lugar de conservantismo, ela tem a obrigação filosófico-epistêmico de compreender o presente” (POMMER, Arnildo; 1999). Diante destes pressupostos podemos dizer que não há universidade sem a diversidade de conhecimentos, inclusive o filosófico.
A universidade tem o dever de se diferenciar de todas as outras instituições, pois deve ser o lugar de resistência, que lute contra a mecanização do ensino, devendo constantemente fazer uma reflexão radial e dinâmica, perante a rapidez voraz e destruidora da técnica e da modernização científica. Porque segundo o célebre filósofo, escritor e poeta Mário Osório Marques: “(...) o processo científico e tecnológico é invenção humana, não fatalidade histórica”. (MARQUES, Mario Osório; 1999).
Esperamos que os ideais de Mario Osório Marques não sejam destruídos pelos medíocres pensamentos massificados do modelo capitalista que no momento se fazem presentes, e que o verdadeiro significado de universidade seja compreendido e aplicado nas práticas educacionais das universidades.
Luana de Oliveira e Luís Fernando Jaques, acadêmicos de Filosofia da Unijuí.
Referência: Introdução à Filosofia. Org. Paulo Rudi Schneider. Editora UNIJUÍ. Ijuí.1999. p.165.

sábado, 24 de setembro de 2011

A Ponte Entre Céu e Terra

Antahkarana: a Ligação Dinâmica
Entre o Eu Mortal e a Alma Imortal
 
 

Carlos Cardoso Aveline

 

 

 

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Para ter acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br  e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento
 
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sábado, 3 de setembro de 2011

O SerAtento Como Sala de Aula


Reflexões Sobre a Aprendizagem de Teosofia
 
 
Arnalene Passos

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Fundado em 29 de agosto de 2005, o e-grupo
SerAtento funciona em YahooGrupos. O texto a
seguir é resultado de um diálogo online realizado em agosto
de 2011 entre associados da Loja Unida de Teosofistas, LUT.

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Se fôssemos escrever sobre nossa primeira experiência escolar, a criança que chora para não se soltar das mãos dos pais no primeiro dia de aula seria uma cena comum. O mesmo medo se apresenta sempre que estamos frente ao desconhecido.

Conduzidos pelas mãos da Grande Lei, chegamos a uma escola para infância espiritual. Aqui  os critérios de seleção são afinidade e não idade; mente aberta e não conhecimento adquirido; humildade diante da grandeza do conhecimento, e outros.  

Repetimos então a mesma cena da criança que chora.  Nos agarramos a conceitos e crenças, gastando um tempo precioso, até soltarmos paradigmas que limitam e embaçam nossa visão. Isto não acontece sem dor, e nem todos dão conta de esvaziar a mochila.

Diante do mundo de informações que se descortina, sem roteiro curricular, custamos a entender que:

*“...Cada estudante deve construir com independência sua própria trajetória para chegar ao conhecimento. ” 

* “A busca da verdade deve estruturar-se de dentro para fora na mente e no coração de cada estudante. ”

* “A teosofia mostra a falsidade da figura do ‘intermediário’. O impulso em busca do conhecimento filosófico deve ser individual, porque a responsabilidade cármica diante da vida pertence a cada um e não pode ser transferida para alguma organização ou líder.” [1]

Com a pedagogia compreendida, começamos a escrever a nossa história de busca pela verdade através dos ensinamentos teosóficos. A fase bem conhecida por todos é a dos porquês. O ritmo depende apenas da  “motivação interna  e a visão do dever de cada indivíduo para com sua própria consciência e sua alma imortal.” [2]

Aqui estamos, aprendizes nesta escola em que o diploma é o discernimento, e a clareza do dever. Aprender e transmitir são simultâneos, e o teste do conhecimento é a vivência em nosso no dia-a-dia. 

Alguns parágrafos selecionados para reflexão:

* O SerAtento surge em 29 de agosto de 2005 como instrumento para realizar um curso online de dois meses sobre a primeira parte do livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline. O nome do grupo é “O Caminho do Guerreiro” e reproduz o título da primeira parte da obra. 

* O SerAtento constitui um laboratório de pesquisa teórica e prática  situado no centro de um pequeno sistema dinâmico de produção, publicação e distribuição de textos sobre filosofia esotérica clássica e a arte de viver corretamente. Sua referência central é a vasta obra escrita - e também o exemplo de vida - da pensadora russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). 

* A ênfase maior dos estudos e diálogos do SerAtento é dada, pois, ao autoconhecimento, ao estudo filosófico, à auto-responsabilidade e ao esforço por viver com ética e sabedoria. [2]

* O e-grupo SerAtento pode ser visto como uma egrégora ou campo energético que rodeia um ideal e um saber filosófico de caráter planetário.  Enxergando o SerAtento como um processo vivo,  é possível investigar em que plano da realidade ele existe, já que sua atividade não ocorre exatamente no plano físico. 

O SerAtento não é apenas intelectual. Não é feito só de palavras. Seu processo dinâmico ocorre na luz astral, mas se desdobra em sete níveis de consciência. Ele é como um templo sutil. Ele funciona como uma sala de reuniões teosóficas. Ele é um exercício constante da Prática da Presença Sagrada. O SerAtento é um lugar real, mas não é físico. Ele é mais real, talvez, do que uma sala de quatro paredes feitas de tijolos. O SerAtento é um prédio construído com pensamentos. [3]

Pontos de Vista Sobre o SerAtento

Nosso esforço em pontuar a vida pelos princípios teosóficos é a força que une e  fortalece o trabalho focado, pioneiro e corajoso que esta recém criada loja luso-brasileira da Loja Unida de Teosofistas, LUT, vem desenvolvendo no campo internacional,  visando renovar o movimento teosófico.

Um membro da coordenação do e-grupo escreveu:

“O  SerAtento é um processo em que aprendemos uns com os outros e com o ensinamento, fazendo isso na proporção adequada para cada um, conforme o processo natural de cada indivíduo.”

Desde Santa Catarina um estudante esclareceu o seguinte:

“Mesmo não conseguindo penetrar profundamente nas verdades da Teosofia Autêntica, percebemos a grandeza e a precisão dos ensinamentos ofertados altruisticamente pelos Mestres, por HPB, W. Q. Judge, Crosbie, J. Garrigues, e tantos outros ao longo destes anos, desde 1875. Com um coração de gratidão pela obra, dadas as nossas limitações individuais cármicas, só nos resta divulgar o mais amplamente possível estas verdades, na esperança de que tenham sobre os outros caminhantes, os mesmos efeitos transformadores que tiveram sobre nós.”

Recebemos o seguinte testemunho desde o estado do Espírito Santo:  

“Eu vejo um doar diário aqui no Atento... de diversas maneiras e isso é tão belo, mostra nossa diversidade na unidade! Nem sei dizer do tanto que já aprendi com vocês,  meus Companheiros de Caminhada! E divulgar os Ensinamentos, repassar TEOSOFIA,  é nossa forma de retribuição ! Nossa pequena grande forma de retribuir.”

E uma estudante escreveu de Goiânia:

“O SerAtento é uma verdadeira  escola de Teosofia, sem dúvida, creio que todos nos sentimos aqui numa sala de aula. E muito, muito mesmo, essa escola tem contribuído com as boas mudanças em minha vida. Hoje meu pensamento não está no aqui, no agora; está mais além, no longo prazo. E a Teosofia e o SerAtento têm uma participação real nisso.”

O seguinte testemunho veio do interior de Minas Gerais:

 “Os estudos e diálogos promovidos pelo Ser Atento, o autoconhecimento e a auto-responsabilidade nos permite caminhar em solo firme, fortalece o nosso interesse pela Teosofia, sua compreensão e sua prática. Muitos desdobramentos, dimensões, vastidões surgem a partir de nossa existência, das nossas reflexões. A mente vai despertando e o campo das possibilidades avança como um impulso determinador de futuras vivências e realidades. Assim vamos enfrentando nossa existência e aos poucos descobrindo o seu sentido e a sua grandeza.”

E da região Centro-Oeste:

“Penso que a força real do Atento é a força da veracidade que há em nosso trabalho e em nossas vidas. Qual é a relação entre o que pensamos e o que dizemos? Qual a relação entre o que pensamos, sentimos, dizemos e fazemos? Qual é nosso compromisso  com nossas próprias (boas) intenções? Somos realistas em nossas metas? Estes pontos são fundamentais para que possamos calcular de fato e conhecer a força real do SerAtento - e do nosso trabalho como um todo.”

Finalizo com palavras de um teosofista que vive no sul do país. Ele escreveu: 

“Atentos no dia-a-dia, poderemos olhar para trás e verificar o quanto este processo foi verdadeiramente alquímico na nossa vida, e veremos com clareza as mudanças, e principalmente o quanto ainda precisamos caminhar. Só com o apoio solidário e cooperativo dos corações e mentes de todos os atentos, poderemos nos tornar mais úteis a todos os seres.”


NOTAS:

[1] Fragmentos de A Arte de Estudar Teosofia”, de Carlos Cardoso Aveline, link direto - http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1157 .

[2] “O Que é o SerAtento”, texto assinado por Um Estudante de Teosofia, link direto http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=977 .

[3] Artigo “A Egrégora do E-grupo SerAtento”, em “O Teosofista” de Fevereiro de 2011,  link direto http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1105 .


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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Como Tirar Proveito dos Inimigos

 

A Arte de Aprender com as Dificuldades

Carlos Cardoso Aveline

Uma velha fábula indiana conta que, há milhares de anos, vivia em um templo abandonado uma grande cobra venenosa. Seu nome era Naga. Em geral, Naga tinha bons sentimentos, mas despertava terror nos habitantes da aldeia próxima porque –  quando incomodada –  atacava as pessoas.
 
Certo dia, um sábio desconhecido apareceu misteriosamente no local.  Sentou-se junto ao templo e chamou Naga para uma conversa. Disse-lhe que a vida é, na verdade,  uma grande  escola espiritual, e que aprendemos o tempo todo, mesmo quando não temos consciência disso. “Mas o aprendizado é muito mais rápido ― e muito mais difícil ― quando fazemos um esforço consciente por iniciativa própria”, acrescentou. 
A consciência de Naga se expandiu. O animal viu a luz da sabedoria, e disse que desejava trilhar o caminho do esforço consciente. O instrutor mencionou então duas condições básicas para esse tipo de aprendizado.
“O primeiro passo é o autocontrole”, disse ele. “O processo sagrado começa à medida que o aprendiz deixa de obedecer aos instintos animais”. E acrescentou, antes de prosseguir viagem: “Ao mesmo tempo, há uma outra condição. É preciso ser fraterno e pacífico em relação a todos os seres”. 
Impressionada pela força das palavras do mestre, a cobra Naga deixou de lado as preocupações mundanas. Praticou meditação, aproximou-se da sua alma imortal e experimentou a paz do universo infinito. Ela também tomou uma decisão: “De agora em diante, vou controlar os meus instintos e não morderei mais ninguém”.
A lei da evolução estabelece que todo conhecimento deve ser testado na prática, e o caso de Naga não foi uma exceção. Seu novo comportamento chamou atenção das crianças da aldeia. Por que razão ela ficava o dia todo imóvel, em jejum, recitando mantras e meditando sob o calor do sol? Quando todos compreenderam que o animal não atacava, começaram os risos, o desprezo e as agressões à base de paus e pedras. Com o tempo, Naga  emagreceu.  Adoeceu. Sua pele começou a cair. Mas ela perseverava.  
Um ano depois, o animal está sem forças e à beira da morte, quando o mestre desconhecido aparece outra vez e senta-se para conversar. A cobra conta ao sábio tudo o que aconteceu e fala – feliz – da sua lealdade ao caminho espiritual.  Surpreso, o mestre explica que tamanha dor não era necessária: 
“Amiga, eu disse para você não atacar. Não disse que não ameaçasse morder. Não disse que não preparasse o bote. Não deixe de impor respeito: não faça mal a ninguém, mas – quando necessário – defenda-se sem violência.”
Qual foi, então, o erro de Naga?  Ela idealizou o caminho da sabedoria de maneira ingênua e  ignorou o fato de que conflitos e contradições fazem parte da vida. Os exemplos são muitos. A cada momento temos de tomar decisões, e antes de cada decisão há uma certa luta entre diferentes tendências em nosso interior. As pessoas vivem conflitos psicológicos dentro de si, e se isso é verdade, é também natural que haja discordâncias nas relações humanas e sociais. 
Contraste é vida, e vida é movimento. A uniformidade imobilista não é saudável. Quando as pessoas têm medo das discordâncias naturais, elas passam a reprimir as suas diferenças de opinião na esperança de  preservar a paz. Assim, a sinceridade é substituída pela cortesia. Gradualmente, a confiança mútua desaparece, abrindo espaço para a má-vontade, os sentimentos hipócritas e a deslealdade.        
Por isso a sinceridade é sempre melhor que a harmonia forçada. Naturalmente, é agradável estar rodeado de pessoas que concordam conosco em todos os aspectos.  Mas, se fosse possível viver desse modo o tempo todo, nossa evolução correria grave risco de ser interrompida. Assim como as pedras dos rios ficam redondas após longos anos de atrito, também os seres humanos necessitam de suas dificuldades e  contradições para aperfeiçoar-se. 
É certo que devemos evitar as desarmonias, mas em muitos casos elas são inevitáveis, e então o melhor que podemos fazer é aprender com elas. Para o pensador grego Plutarco (46. d.C.- 120 d.C.) os inimigos são comparáveis às dificuldades naturais que a vida coloca diante de nós. Um velejador experiente não se desespera com o vento contrário, mas sabe usá-lo para avançar no rumo certo. Do mesmo modo, devemos aproveitar as inimizades e outros desafios para aumentar nosso autoconhecimento.
“O fogo queima quem o toca, mas também fornece luz e calor e serve a uma infinidade de usos para aqueles que sabem utilizá-lo”, explica Plutarco. A situação é idêntica com os adversários ou invejosos: “O que é mais prejudicial na inimizade pode tornar-se o mais proveitoso”, diz ele. “É que teu inimigo, continuamente atento, espia tuas ações na expectativa da menor falha, e fica à espreita em torno da tua vida”.
Na tarefa de identificar nossos erros, os inimigos são mais úteis que os amigos. Os adversários aumentam o perigo e, com isso, não nos deixam adormecer na rotina. Para Plutarco, necessitamos amigos sinceros e inimigos ardentes: “uns nos afastam do mal por suas advertências, os outros, por sua censura”. Porém, os amigos geralmente evitam falar com franqueza. Além disso, o amor pode ser cego em relação a aquilo que ele ama.  Mas o rancor consegue revelar as manias e os fracassos de qualquer um.[ 1 ]  Quando o invejoso mente em suas críticas, podemos lembrar que, seja como for, nós ainda estamos longe da perfeição. É verdade que ele vê erros em nós que não existem. Mas talvez haja erros em nós que ele não vê. Devemos aproveitar a oportunidade de uma crítica contra nós para exercer vigilância e aumentar nossa força interior.  A confiança no bem e a autoconfiança nos darão tranqüilidade para observar os erros do ponto de vista do nosso potencial divino. E, sobretudo, para valorizar nossos acertos.
Segundo Plutarco, a melhor maneira de defender-nos dos inimigos é aumentar nossas virtudes. O taoísmo e a filosofia esotérica ensinam a mesma coisa. O escritor Carlos Castaneda (1925-1998) reforça esse ponto ao explicar que “o guerreiro deve ser impecável”.
Como se pode, então, tirar proveito das injustiças que sofremos? Castaneda aprendeu com seu mestre Don Juan a técnica do pequeno tirano.  O método  funciona melhor quando há alguém que não só está  situado em uma posição de poder ou de superioridade  em relação a nós, mas tem, também, a séria intenção de causar-nos profundo mal-estar.
É claro que nenhum tirano externo tem real importância em si mesmo.  Nosso único verdadeiro inimigo é nossa própria ignorância diante da vida. Os adversários mais desagradáveis do mundo exterior são apenas projeções e materializações daquelas lições que ainda não aprendemos e, por isso, são todos de pequeno porte.  No sistema de ensino de Castaneda, há, portanto,  três tipos básicos de pequenos tiranos:
1)Tirano Insignificante. Tem o poder de matar suas vítimas quando quiser.  Hoje é difícil de encontrar, mas era relativamente freqüente durante a época colonial, quando os feiticeiros da América Central criaram essa técnica.
2)Pequeno Tirano Insignificante.  Persegue e inflige danos sem chegar a causar a morte das suas vítimas.
3)Pequeno Tirano Muito Insignificante.  Ocasiona incômodos e exasperação sem fim. [ 2 ] 

A função do pequeno tirano é testar a força e a coerência do aprendiz.
A vida é como uma grande respiração, e, em todos os seus aspectos, a cada expansão corresponde uma retração igual e contrária.
Assim, na mesma medida em que o guerreiro expande no plano subjetivo a sua visão de mundo e se une ao infinito, ele tem de fazer com que, no plano objetivo, as suas ações práticas sejam cada vez mais compactas, mais controladas e mais intensas.  Esse paradoxo é inevitável. Se não fizer isso, seu avanço será falso.  
Há pequenos tiranos insignificantes e muito insignificantes que usam de brutalidade e violência. Outros atormentam criando preocupação, tristeza ou fúria. Em todos os casos, eles são usados pelo guerreiro da sabedoria para identificar e eliminar sua própria vaidade, seu orgulho e  sua preocupação consigo mesmo. O aprendiz deve adquirir um controle estratégico da sua própria conduta, com o objetivo de eliminar o desperdício de energia vital e de obter um acesso cada vez maior à energia do universo infinito. Os jogos do pequeno tirano insignificante só causam sofrimento enquanto houver ignorância, medo e falta de atenção no guerreiro.
A estratégia do aprendizado pode ser resumida em seis pontos:
1.Controle. Enquanto o pequeno tirano atormenta o guerreiro, esse aprende a desmontar os seus esquemas de justificação da preguiça, vê destruída a sua ingenuidade infantil, e desperta para níveis superiores de alerta e atenção. Ele aprende a controlar os impulsos inferiores. Se não fizer isso, será derrotado. 
2.Disciplina.  Como qualquer ser humano, o guerreiro sofre, mas ele sofre  sem sentimento de auto-piedade. Ele levanta informações objetivas sobre a situação em que está, identifica os perigos reais e define possíveis alternativas, sem perder tempo ou energia com emoções desnecessárias. 
3.Paciência. O guerreiro não combate prematuramente. Ele aguarda com serenidade e antecipa com prazer a sua futura libertação. “O guerreiro sabe que espera, e sabe o que espera”, explica Victor Sánchez.
4.Sentido de Oportunidade.  No momento certo, o guerreiro aplica toda a energia acumulada em relação aos três pontos anteriores. Sánchez afirma : “É como abrir as comportas de uma represa”.
5. Vontade. Não é a vontade comum, mas um elemento imponderável, reservado para uma situação extrema. Esse é o único ponto da estratégia que pertence ao desconhecido. Não é apenas um resultado da acumulação dos itens anteriores.
6.O Tirano Insignificante. É o elemento externo que, ameaçando o guerreiro, dinamiza e acelera o seu processo de crescimento interior. [ 3 ] 
É muito provável que não haja ninguém situado em uma posição de poder que esteja pensando em atormentar-nos ou em destruir nosso bem-estar. Raramente alguém tem o privilégio espiritual de viver esse desafio.
Ainda assim podemos usar essa técnica de Castaneda. Basta adaptar a estratégia acima substituindo o pequeno tirano pelo conjunto de obstáculos que nos rodeiam e dificultam a obtenção da nossa meta, a sabedoria.  Se não há um tirano, pode haver uma situação limitadora, uma pequena tirania exercida pela nossa própria ignorância, e que limita nosso processo de aprendizagem. E a estratégia permanecerá válida. 
Os três primeiros pontos – controle, disciplina e paciência – são estimulados pelo sexto elemento, o tirano, ou a “situação limitadora”. 
O quarto ponto – a escolha do momento de ação – serve para preparar o salto transformador e o instante criativo que fará toda a diferença. O quinto ponto, a vontade, significa que, tendo aumentado sua eficiência e sendo impecável nessa situação concreta, o guerreiro reúne uma energia ilimitada, a ser usada no momento certo. 
Desse modo, cada pessoa de má vontade ou que boicota nossos esforços tem algo a nos ensinar. Se formos aprendizes conscientes da arte de viver, estaremos sendo beneficiados pelas suas ações agressivas, ainda que isso possa ser frustrante para o agressor. Normalmente, o pequeno tirano é um pobre desorientado. Ele não só ignora que sua má-vontade contra nós na verdade nos beneficia, mas sequer  suspeita o quanto é gravemente prejudicial para ele próprio querer prejudicar alguém.
Para o aprendiz da sabedoria, há três coisas de suprema importância.
A primeira é não aceitar o papel de pequeno tirano nem perder tempo ou energia com pensamentos e ações destrutivos em relação a outrem. A segunda é não cair na posição de vítima paralisada ou inconsciente, e não alimentar auto-piedade. A terceira é saber atuar como um colaborador da sabedoria universal em todas as situações da vida.  
 
NOTAS.

[ 1 ] Como Tirar Proveito de Seus Inimigos, de Plutarco, Ed. Martins Fontes, SP, 1998, 121 pp.,   ver pp. 5, 6, 7 e 13.
[ 2 ] Os Ensinamentos de Don Carlos, aplicações práticas dos trabalhos de Carlos Castaneda, Victor Sánchez, Ed. Nova Era, RJ, 1997, 268 pp., ver p. 120. Veja também o capitulo dois de O Fogo Interior, de Carlos Castaneda, Ed. Record, RJ, 280 pp.
[ 3 ] Os Ensinamentos de Don Carlos, obra citada, pp. 121-123, e O Fogo Interior, obra citada, especialmente pp., 27 a 30. Sobre a vontade, p. 29.  

domingo, 17 de julho de 2011

Os Animais e a Crise Planetária

O Papel dos Animais no Salvamento de
Vidas Humanas e na Prevenção de Catástrofes
 
 
Joaquim Soares e Magda Lóios
 
 
 
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O texto a seguir foi publicado
inicialmente  na revista portuguesa “Biosofia”,
n.º37, edição do verão de 2010, Lisboa.
Joaquim Soares e Magda Lóios são editores do
 
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Muito antes de terem surgido as diversas organizações de defesa dos direitos dos animais, felizmente tão activas em nossos dias, Helena Blavatsky, fundadora do Movimento Teosófico moderno e pioneira do movimento Ecologista, escrevia num vigoroso texto, em 1883:
 
“Um autêntico AMOR não egoísta, combinado à VONTADE,  é um “poder”  em si mesmo.  Aqueles que amam os animais devem mostrar sua afeição de maneira mais eficiente do que cobrir seus animais com fitas e levá-los para uivar e arranhar nas competições, em busca de prémios.” [1]
 
A nossa civilização ocidental tem uma longa tradição de massacre dos nossos indefesos companheiros mais novos. O hábito da caça, a vivissecção, a experimentação laboratorial, o uso de animais em circo e, por fim, o nosso modo de alimentação carnívoro, são várias das formas cruéis com que lidamos com os animais, num profundo desrespeito pelo seu sofrimento e também pelo carácter sagrado de toda a vida.
 
Criámos uma sociedade tão alienada do mundo natural que muitas das nossas crianças têm dificuldade em perceber que, por exemplo, o leite e os ovos não nascem espontaneamente das prateleiras dos supermercados mas são dádivas de nossos amigos animais.
 
Ter um animal em casa tornou-se um hábito, mas muitas vezes esquecemos que ele viverá connosco, partilhando da nossa vida como um dos nossos familiares, durante 10 ou 20 anos. Passado o fascínio inicial, ou quando é chegada a altura das férias, animais são abandonados aos milhares nas ruas das nossas cidades, condenados a vaguear e a procurar sobreviver num ambiente desconhecido e demasiado hostil para a sua apurada sensibilidade.
 
Só teríamos a ganhar se nosso relacionamento com os animais fosse de verdadeiro respeito e amor e não de simples utilitarismo egoísta.
 
No cultivo dos campos, no transporte de materiais, na edificação de construções, na guarda de espaços e habitações, os nossos pequenos amigos sempre se revelaram, ao longo da história humana, preciosos colaboradores. A ligação entre os humanos e os animais é bem mais profunda do que somos levados a crer. A sua fidelidade é bem conhecida e muitas são os episódios enternecedores de cães, gatos e aves que morrem de desgosto com a partida de seus donos (aliás, existem registos que o mesmo acontece com plantas).
 
São conhecidas as histórias de mineiros que levavam consigo para dentro das minas gaiolas com canários, que os auxiliavam na detecção de gases venenosos. Quando, durante a extracção mineira, algum desses gases era libertado as aves davam logo o alerta através do seu comportamento.
 
Durante a I e a II Guerra Mundial, para que as comunicações não fossem detectadas pelo inimigo, muitas das instruções entre os postos de comando das forças aliadas e as linhas avançadas foram comunicadas através de pombos-correios. Em ambas as guerras milhares de pombos foram utilizados.
 
São muitas e comoventes as histórias de cães que salvaram vidas em cenários de conflito, nomeadamente trabalhando na detecção de minas. Muitos destes animais chegaram mesmo a ser condecorados com medalhas de bravura. Mas não são apenas os canídeos os únicos a ser chamados para estas perigosas tarefas. Neste momento começam a ser usados ratos para detectar minas. Estes pequeninos animais conseguem ser mais eficientes do que as máquinas detectoras (que não conseguem detectar explosivos plásticos) e do que os próprios cães farejadores (pois estes apenas trabalham com os seus tratadores). [2]
 
Até mesmo os animais mais insuspeitos podem revelar-se nossos aliados. Moradores de um bairro em Minas Gerais, no Brasil, decidiram adoptar gansos como aves de guarda das suas casas. Depois de alguns assaltos na zona e decididos a não instalar grades e dispendiosas câmaras em seus jardins, acabaram recorrendo aos gansos. Sendo aves com uma visão e um olfacto mais apurado do que os cães, elas acabam suplantando até os seus companheiros de quatro patos. [3]
 
Por vezes, a ligação entre animais e seres humanos pode assumir um carácter ainda mais profundo. Abundam os relatos de animais que, após o falecimento do seu dono, acabam também eles por morrer de desgosto, tão grande era a devoção por seus cuidadores.
 
Temos depois inúmeras situações que atestam as capacidades ainda pouco conhecidas dos animais. Uma notícia muito comentada em alguns meios de comunicação relatava o caso de um gato, de nome Óscar, que vivia no terceiro andar de uma clínica nos Estados Unidos. Esse andar era exclusivo para doentes com problemas mentais. Os profissionais de saúde repararam que Óscar visitava certos doentes, duas horas antes destes falecerem. De alguma forma, o pequeno felino “pressentia” quais os doentes que se abeiravam da morte, fazendo com que os médicos e enfermeiros entrassem em acção.
 
As capacidades sensoriais dos animais podem revelar-se extremamente úteis, num momento em que vivemos um período crítico de crise planetária.
 
De facto, os animais podem ter um papel fundamental, em especial no evitar de perdas de vidas humanas, como acontece no caso de grandes catástrofes naturais. Para além dos cães que são usados na busca de sobreviventes em cenários de destruição, existem inúmeros relatos de vários animais que pressentem a ocorrência de fenómenos geológicos e climáticos, como terramotos, erupções e tempestades.
 
Data de há séculos o conhecimento de que os animais podem prever grandes fenómenos geológicos e climáticos. Mais recentemente, esta área voltou a despertar um novo interesse, embora a ciência continue sem conseguir explicar o porquê da capacidade “premonitória” dos animais.
 
Segundo uma investigadora, sapos previram o terramoto que atingiu a cidade italiana de Áquila, na madrugada do dia 6 de Abril de 2009 e onde perderam a vida mais de 200 pessoas. De acordo com a autora do estudo, que na altura investigava o comportamento dos sapos num lago perto da cidade que ficou destruída, 96% dos machos abandonaram o local três dias antes do terramoto. Este comportamento foi considerado anormal, uma vez que estes animais costumam permanecer no mesmo local até ao final do período de ovulação. [4]
 
Um sobrevivente do terramoto que assolou a região de Sichuan, na China em 1976, afirma que cães ladraram durante várias horas antes do sismo. Em 2001, algumas horas antes de um terramoto de 6.8 na escala Richter ter atingido a cidade de Seatle, nos Estados Unidos, vários animais começaram a demonstrar estranhos comportamentos de ansiedade e desespero.
 
Num excelente artigo intitulado “Escutem os Animais”, publicado na revista “The Ecologist” [5] , o biólogo Rupert Sheldrake chama atenção para o facto de muitos animais terem escapado ao tsunami que varreu a costa de vários países asiáticos em 2004, e que provocou mais de 300.000 vítimas humanas. Elefantes, búfalos e muitos outros animais foram vistos a dirigirem-se para zonas elevadas, algum tempo antes da chegada da onda gigante atingir o litoral. Muitas pessoas revelaram que os seus cães se recusaram a fazer o seu passeio habitual junto à praia no dia do tsunami. Grande parte da população indígena das Ilhas Andaman, que mantêm uma forte ligação a natureza, escapou da tragédia fugindo para as montanhas, seguindo o alerta dado pelo comportamento dos animais.
 
Sheldrake descreve ao longo do artigo muitos outros casos de premonição animal. Até agora ninguém parece saber como os animais pressentem os terramotos, tsunamis, avalanches ou outros fenómenos naturais. O próprio Rupert Sheldrake avança com uma explicação, recorrendo à sua Teoria dos Campos Morfogenéticos, que de algum modo apresentam uma certa ligação com a concepção dos diferentes níveis do Akasha da Ciência Oculta.
 
No final do artigo, Sheldrake reconhece que “a habilidade dos animais em anteciparem desastres tem sido ignorada pelos cientistas ocidentais, que rejeitam histórias de antecipações animais como supersticiosas.”
 
A ciência oficial, e em particular a ocidental, teima em sair das “velhas veredas” do materialismo e da visão reducionista da vida e do universo. Mas a força dos factos ameaça desmoronar o edifício cada vez mais instável.
 
Na China, por exemplo, o recurso a animais como forma de prever a ocorrência de catástrofes está sendo bastante incentivado pelas próprias autoridades. Um sistema de alerta animal é algo que poderá vir a ser uma realidade em vários países dentro alguns anos, e que poderá revelar-se bem menos dispendioso e muito mais eficiente do que os instrumentos utilizados actualmente.
 
Importa considerar as consequências de não adoptarmos uma atitude não-violenta para com a vida. A Ciência Oculta, ou Ecologia Espiritual, ensina que 'por detrás de uma aparente acção mecânica de forças físicas no planeta estão causas e forças espirituais'. Não pudemos esquecer que há um importante impacto da soma dos pensamentos e desejos humanos sobre a fisiologia planetária. A própria forma como tratamos barbaramente os animais, com a consequente emanação de emoções de intenso sofrimento na “atmosfera astral”, concorre para o avolumar de tensões magnéticas. Estas emanações irão somar-se ás tremendas forças acumuladas pela actividade mental e astral da humanidade, acabando por perturbar o equilíbrio vital do planeta. Todos os pensamentos tenebrosos e as emoções negativas emanadas pelos seres humanos e pelos animais em sofrimento desencadeiam autênticas convulsões na face de Gaia.
 
A dura fase da transição planetária pode ser amenizada pelos pensamentos de paz e sentimentos de compaixão para com tudo o que vive. Aos poucos, a humanidade irá descobrir que tem muito a ganhar se proteger, cuidar e aprender a escutar os seus companheiros mais novos. Religarmo-nos com Gaia e com todos os seus reinos é encontrar de novo o caminho da harmonia, da beleza e da sabedoria.
 
 
NOTAS:
 
[1] “Porque os Animais Sofrem”, de Helena Blavatsky. O texto encontra-se no websitewww.FilosofiaEsoterica.com , na secção “Helena P. Blavatsky”.
 
[2] Ver notícia “Os Farejadores de Minas”, no website http://artigos.immagazine.sapo.pt/pt/ler/farejadoresminas/
 
[3] Ver notícia “Gansos são usados como aves de guarda em Uberlândia, em Minas Gerais”, no website http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/10/21/gansos-sao-usados-como-aves-de-guarda-em-uberlandia-em-minas-gerais-769780833.asp
 
[5] Ver notícia “Sapos previram terremoto na Itália, concluem cientistas”, no website http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u714162.shtml
 
[6] “Listen to the Animals”, Rupert Sheldrake. The Ecologist, Março 2005.