Para Voltaire, a Amizade é Inseparável da Sabedoria
Carlos Cardoso Aveline
O pensador iluminista Voltaire (1694-1778)
Às vezes a palavra “amizade” é usada de modo tão vago que não sabemos o que ela significa de fato para esta ou aquela pessoa.
O filósofo iluminista francês François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, escreveu o seguinte:
“Amizade é um contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis, porque um monge, um solitário, pode não ser ruim e viver sem conhecer a amizade. Virtuosas, porque os maus não buscam mais que cúmplices. Os sensuais buscam companheiros de devassidão. Os interesseiros reúnem sócios. Os políticos congregam partidários. O comum dos homens ociosos mantêm relações. Os príncipes têm cortesãos. Só os virtuosos possuem amigos.” [1]
Assim, na realidade, amigo não é cúmplice e não é comparsa.
Quem engana os outros deve procurar ser um pouco mais inteligente e fazer um auto-exame honesto para ver-se livre deste problema, porque está, seguramente, enganando sobretudo a si mesmo. Pretender ser mais esperto que os outros é prova de uma deficiência mental profunda, mal disfarçada pela astúcia de curto prazo. A mentira, ainda que supostamente “bem intencionada”, faz o mentiroso perder a noção de realidade.
A base inevitável da sinceridade é o autoconhecimento. Só se pode ser amigo dos outros sendo, antes, amigo de si mesmo e do seu próprio eu superior. Em sua origem, a palavra “filosofia” significa “amor à sabedoria”, e Voltaire acrescenta:
“O filósofo é um amigo da sabedoria, ou seja, da verdade. Esse duplo caráter esteve presente em todos os filósofos. Não houve nenhum na Antigüidade que não desse exemplo de virtude aos homens e lições de verdades morais.”[2]
Não é por acaso que o lema do movimento teosófico afirma: “não há religião mais elevada que a verdade”.
A amizade é um privilégio exclusivo dos que dizem a verdade tal como a percebem. Para a prática da fraternidade universal - grande meta da evolução humana - cada um deve reaprender a ser sincero com todos os outros.
NOTAS:
[1] “Dicionário Filosófico”, Voltaire, Ed.Martin Claret, p. 23.
[2] “Dicionário Filosófico”, p. 232.
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Bom o enuncíado sobre Amizade na visão de Voltaire, porém impróprio e desnescessário a relação feita com o lema do movimento teosófico. O que é a verdade?! Precisamos ter um tanto de cautela ao tratarmos de termos tão complexos, qto a questão da verdade, enqto estudantes/amigos da filosofia.
ResponderExcluirO lema do movimento teosófico “não há religião mais elevada que a verdade” trata da verdade silenciosa, a voz da consciência que se encontra desde sempre no âmago de cada um.
Excluir"Sobre a Verdade – Satya
A palavra Satya (Verdade) vem de Sat, que significa ser. Na realidade, não existe nada a não ser a Verdade. É por isso que Satya ou Verdade talvez seja o nome mais importante para Deus. Com efeito, dizer que a Verdade é Deus é mais certo que dizer que Deus é a Verdade. Muitos não imaginam nada além de um soberano ou de um general; os nomes de Deus como Rei dos reis ou Todo-Poderoso são de uso corrente e permanecem entre nós. Se, no entanto, refletimos um pouco mais profundamente, vemos que Sat ou Satya é, para designar Deus, o nome mais exato e que possui um sentido mais completo.
Onde está a Verdade está, também, o conhecimento que é verdadeiro. Onde não está a verdade não podemos encontrar o conhecimento verdadeiro. É por isso que associamos a palavra chit, conhecimento, àquela de Deus. E onde se encontra o conhecimento verdadeiro há sempre a felicidade (ananda) [2], e não há lugar para a dor. A verdade sendo eterna, também a felicidade que dela deriva o é. É por isso que conhecemos Deus sob o nome de Sat-Chit-Ananda. É o que reúne em si a Verdade, o Conhecimento e a Felicidade." [1]
[1] Sobre a Verdade – Satya - http://afil-amigosdafilosofia.blogspot.com.br/2011/04/sobre-verdade-satya.html.
Evaldo Berwig