A
Bem-Aventurança Ocorre
No Nível da
Consciência Universal
The Theosophical
Movement
O
verdadeiro contentamento não depende de fatos externos
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O texto a seguir
foi publicado pela primeira
vez na edição de
março de 2003 da revista
“The
Theosophical Movement”, que é editada
na Índia por
associados da Loja Unida de Teosofistas.
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O capítulo dois
do Bhagavad
Gita [1] diz que quem está
firmemente estabelecido no conhecimento espiritual sente-se “feliz e contente
no eu superior, e através do eu superior”.
De
que modo alguém pode estar feliz e contente “no eu superior”? E o que significa
“através do eu superior”?
Uma
coisa é certa: ninguém que tenha ideais e um pouco de imaginação pode estar
feliz e contente apenas no plano da sua personalidade, ou eu inferior. A
personalidade se sente ferida, sofre, fica frustrada, e assim por diante. Ela
tem aspirações deste ou daquele tipo, e não está contente com tudo o que
acontece. Portanto, a felicidade e o contentamento vêm de algo em nós que não é
alterado pela personalidade.
Podemos
chamar este “algo” de Manas [Mente].
Não se trata de Buddhi-Manas [Mente
Espiritual] nem de Kama-Manas [Mente
Emocional], mas daquela consciência ou atenção em nós que é capaz de
analisar a vida e de estar em paz consigo mesma, podendo compreender o que
ocorre à sua volta e também no interior dos seus processos de emoção, de
desejo, etc., sem que, por isso, seja carregada ou absorvida por eles. Essa
consciência se baseia em premissas claras.
O
Bhagavad
Gita explica como é o ser humano que alcançou o conhecimento
espiritual. Nós não temos este conhecimento hoje, porque nosso saber é baseado
em uma visão intelectual das coisas. Ele se apoia nas nossas ideias
pré-concebidas e nas nossas limitações, sem que haja uma compreensão correta do
tempo e do espaço, nem da Lei Universal. A felicidade e o contentamento são uma
meta para nós. No capítulo dois, Krishna diz como isso pode ser alcançado.
Quando, por exemplo, as coisas não ocorrem como esperávamos, e quando surge a
adversidade, devemos manter nossa mente estável e imperturbada. Só assim
podemos encarar os problemas sem que apareçam emoções como ansiedade, medo e
raiva. E quando eles não aparecem o resultado é o contentamento, e talvez a
felicidade.
Só
poderemos encarar a adversidade com este equilíbrio se tivermos compreendido
até certo ponto que existe um centro em nós, o eu superior, que está além
destes acontecimentos, e que não fica fundamentalmente ansioso porque aconteceu
isso ou aquilo, e tampouco tem medo do que possa acontecer, nem raiva diante do
que ocorre.
Devemos
procurar pela fonte deste tipo de emoção.
A
primeira coisa a ser abandonada é o “desejo”. Não se trata de abandonar apenas
um desejo, mas todo e qualquer desejo [egoísta]
que possa entrar em nosso coração. “Coração” neste contexto significa a sede
das emoções, e não deve ser confundido com a mente ou o pensamento.
O
fato de que devemos renunciar a qualquer desejo que surja das emoções significa
que nossa consciência é algo diferente e independente dos desejos. Compreender este
fato é o primeiro passo.
Outro
passo, mais adiantado, consiste em ir além do nosso horizonte atual de
pensamentos. Para descobrir quem realmente somos, devemos chegar, por esforço
próprio, até um nível em nosso interior que não é perturbado pelos nossos
pensamentos e sentimentos comuns.
Deve
existir um centro assim, porque o que ocorre na vida diária com os desejos e
emoções mostra que um aspecto permanente do nosso ser atravessa todos estes
acontecimentos diários.
Sabemos
que com o tempo tudo passa. A cada dia temos outras situações ao nosso redor. Novos
desejos surgem, outras dificuldades aparecem, mas é o mesmo “eu” que passa por
tudo isso. Portanto, nós não somos o desejo, nem a raiva, nem a ansiedade, nem
o medo que podemos sentir. Permanecemos à parte de todos estes pensamentos e
sentimentos, a menos que sejamos absorvidos por eles.
No
seu devido tempo, chegamos a compreender que nenhum acontecimento favorável ou
desfavorável pode afetar-nos de fato, se não estivermos ansiosos, com medo, ou
com raiva em relação ao resultado das ações.
É
por isso que se recomenda não classificar os acontecimentos como favoráveis ou
desfavoráveis, nem como agradáveis e desagradáveis, ou bons e maus.
No
tempo certo, estaremos felizes. Não vamos estar emocionalmente agitados, mas teremos
paz sem ansiedade, sem medo ou raiva,
aceitando calmamente tudo o que acontece, contentes e imperturbados. A pessoa
verdadeiramente feliz não se altera porque as coisas acontecem de um jeito ou
de outro. Ela mantém os seus desejos e as suas repulsas de lado e olha todas as
coisas com uma mente serena.
As
atrações e rejeições surgem dos cinco sentidos e dos órgãos físicos. Chamamos de “prazer” aquilo que sentimos
quando os sentidos gostam de algo. Quando eles não gostam, chamamos de “dor”.
Os sentidos se transformaram em agentes da atividade mental e do desejo. Assim,
somos carregados pelos nossos sentidos, ao invés de controlá-los e de obter
deles a ajuda que precisamos para a nossa evolução. Tendo deixado anteriormente
que os sentidos fossem arrastados para lá e para cá, devemos agora começar a
controlá-los.
Os
órgãos e sentidos são os cavalos que puxam a carroça, e que disparam com ela produzindo
doença, sofrimento, etc., arrastando consigo o dono da carroça, e colocando-o
em todo tipo de situação difícil. Por isso se aconselha afastar os sentidos dos
seus objetivos e sensações rotineiros, fazendo com que eles levem a carroça
para onde nós desejamos. Mas mesmo este
controle não é suficiente. Ele pode levar a pessoa à hatha ioga.[2]
A
próxima etapa é compreender o que significa estar feliz e contente “através do
eu superior”.
Mais
além daquilo que chamamos de “eu”, é possível encontrar a energia, a força e a
sabedoria do eu superior, de cuja luz o “eu” que está no corpo é um raio. A
real sabedoria do nível superior só pode
se manifestar quando o eu inferior se
volta para o eu superior.
A
tranquilidade no nível dos pensamentos surge quando o coração obedece à
vontade, quando o “eu” compreende que não possui coisa alguma e age sem cobiça,
egoísmo ou orgulho, tendo abandonado todos os desejos. O desejo ainda surge no
coração; mas ele já não afeta mais a pessoa, nem a perturba, porque não é
promovido nem apoiado pela mente. Se compreendermos que os desejos, cobiças,
etc., nunca podem ser satisfeitos completamente, porque continuam sempre
aumentando, veremos a falsidade deles e deixaremos que morram à medida que
surgem na mente.
O
“eu” que deixa de ser carregado por desejos e emoções pode transformar-se em um
instrumento do eu superior. Então ele
começa a “aceitar a sabedoria vinda de todas as partes”.
Isso
é algo difícil de obter. Parece que um esforço nesta direção terá de ocupar o
nosso pensamento e a nossa vontade o tempo todo durante o dia, e talvez durante
várias vidas. E é verdade. Mas Krishna nos indica a chave da vitória; confiar
no Espírito Supremo, que é ainda maior que o eu superior. Podemos dizer que na
verdade isso é ter confiança na Lei. Se considerarmos que todas estas
afirmações de Krishna são explicações da Lei, a vida se torna um laboratório
onde podemos testar e comprovar o fato de que elas são verdadeiras.
Assim
nos tornamos senhores da nossa vida, e cada acontecimento passa a ser um
desafio. A vontade sempre reage a um desafio; nem sempre a um “teste”. Fazer
frente a um desafio requer esforço, e parece nos levar para além do reino do
que é agradável ou desagradável, das emoções e dos sentimentos. Deste modo o
desafio se transforma numa competição.
Mas
devemos ter cuidado em relação ao orgulho e à autoconfiança, porque confiar em
nosso próprio eu inferior é uma coisa, e confiar em nosso eu superior é outra
coisa, muito diferente.
NOTAS:
[1] “The Bhagavad
Gita”, William Q. Judge, Theosophy Company, Los Angeles, 1986. (N. do T.)
[2] Nem toda auto-disciplina é espiritual. A
Hatha Ioga leva a um controle do eu inferior por parte do próprio eu inferior.
A Raja Ioga e a Teosofia ensinam o controle do eu inferior por parte do eu
superior, ou alma espiritual. (N. do T.)
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Veja também os
textos “A Felicidade Surge da Sabedoria”, de Regina Pimentel de Caux, e “Além da Dor e do Prazer”, de Carlos Cardoso Aveline. Eles podem
ser localizados através da Lista de
Textos por Ordem Alfabética, no
website www.FilosofiaEsoterica.com
.
Visite sempre www.Filosofiaesoterica.com ,
www.TeosofiaOriginal.com e www.VislumbresdaOutraMargem.com
.
Para ter acesso a
um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte como é possível acompanhar o
trabalho do e-grupo SerAtento.
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