sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Arte de Aprender Dormindo


Um Diálogo Sobre o
Sono, o Sonho e a Inspiração

Carlos Cardoso Aveline

 

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Uma versão inicial do texto a
seguir foi publicada sem indicação
de nome de autor na edição de julho
de 2008 do boletim “O Teosofista”.

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Estudante A:

Há algum tempo, venho estudando com regularidade a teosofia clássica de H. P. Blavatsky. Mais recentemente, começaram a surgir ideias inspiradoras em minha mente no momento em que estou acordando. Outras vezes, isso acontece quando estou para adormecer. Compreensões, percepções,  e até frases inteiras vêm à minha mente. Algumas delas são  respostas para perguntas. Outras são maneiras de entender e de explicar questões relacionadas à vida, ao ser.  São ideias sobre situações abstratas. Em geral, porém, não consigo fixá-las na memória. Você sabe como, ou por que motivo, isso acontece?

Estudante B:  

O estudo calmo e profundo de teosofia, feito com regularidade, não muda só a qualidade de vida em estado de vigília. Ele transforma também a qualidade e a substância do sono, e dos sonhos, do estudante. 

Cedo ou tarde, o aluno começará a ter acesso a ensinamentos “essenciais”, em dimensões sutis, enquanto seu corpo está adormecido. A expansão de consciência durante o estudo em estado de vigília permite alcançar novos níveis de libertação enquanto o corpo está adormecido. 

O aprendizado do eu superior inclui planos da realidade que só se pode vivenciar quando o “eu” está fora do corpo. O resultado deste aprendizado sutil “desce” como um orvalho sobre o cérebro físico, quando este desperta; mas o faz  com tamanha suavidade que não é fácil registrá-lo em palavras, nem lembrar dele com precisão. É verdade que, depois de vários anos de estudo de teosofia, esta dificuldade tende a diminuir pouco a pouco. Porém, mesmo quando o cérebro físico capta alguma coisa do processo, ele só consegue trazer uma “fatia” estreita e limitada do que realmente ocorreu em níveis mais sutis. 
Mas nada se perde do ensinamento ou das vivências “fora do corpo”. O que se aprendeu no plano sutil vai inspirando “por osmose” a vida do indivíduo em vigília, à medida que ele avança no estudo e na reflexão da filosofia teosófica. A vida em vigília passa a ter uma relação renovada com a vida durante o sono e o sonho. A aprendizagem espiritual abrange então as 24 horas do dia. Mais cedo ou mais tarde, todo estudante dedicado desperta para este processo. 

Estudante A:

O aprendizado ocorre de modo individual e isolado, ou o aprendiz pode receber ajuda?

Estudante B:

Nenhum estudante sério de teosofia está interiormente isolado ou esquecido. Por outro lado, a ajuda sutil a receber depende do seu discernimento, do seu esforço, e do seu mérito. Ele deve ajudar para ser ajudado. E não será ajudado “por alguém”, mas sim pela Vida mesma, pela Lei, ainda que seja atravésde uma ou mais pessoas.   
Em “Cartas dos Mahatmas”, vemos uma passagem em que um Raja-Iogue dos Himalaias menciona alguns dos meios pelos quais os Mestres se comunicam com seus discípulos leigos e com pessoas de boa vontade em qualquer lugar do mundo. Entre eles, está a técnica de colocar ideias ou “sementes de ideias” junto à aura do aprendiz, de modo que ele as perceba ao despertar.[1] 

O mais frequente, quando temos ideias inspiradoras ao despertar, é que elas sejam impressões vindas de processos meditativos próprios, ocorridos durante o sono, e que se imprimem por um momento, de modo ainda que tênue, sobre o cérebro físico.
No entanto, os Mestres também podem usar este sistema de comunicação. Existem “discípulos leigos inconscientes”. Mesmo  sem ter uma clara consciência cerebral deste fato, estes aprendizes informais participam da corrente “astral” de consciência coletiva altruísta, anônima e planetária dos Mestres e seus Discípulos. Eles tomam parte da corrente sutil de “boa vontade planetária”, enquanto seus corpos estão adormecidos. Eles fazem isso com plena autonomia e livre arbítrio,  mas, por diversos motivos, que dependem das circunstâncias e do seu carma individual, ao acordar não lembram de quaisquer detalhes do processo em seu cérebro físico.

A consciência cerebral dos vários tipos de vivência superior durante o sono ocorre apenas em uma pequena parcela dos casos. Há um grande número de razões para que estes fatos sutis raramente sejam captados pelos mecanismos mais conhecidos do cérebro  físico.  

Estudante A:

E quais são as razões?

Estudante B:

Um dos motivos é que o nível comum do cérebro só consegue registrar informações de modo visual ou verbal. Ocorre que  tanto o que é visual (imagem) como o que é verbal (som) dependem dos cinco sentidos, mesmo que a imagem e o som sejam subjetivos. Estes processos têm uma relação estreita com o  hemisfério cerebral esquerdo. Porém, os ensinamentos e as vivências realmente espirituais estão acima de todo som, de toda palavra e de toda imagem, e ocorrem sobretudo no hemisfério cerebral direito.  

Quando o aprendiz consegue colocar em palavras algo da inspiração alcançada durante o sono-sonho, ele é consciente de que, ao registrar no papel, deixa de fora a maior parte do que foi essencialmente captado ou “percebido” por ele.

A diferença entre o relato ou memória e a percepção em si mesma é como a diferença entre olhar diretamente o nascer do sol, pela manhã cedo, ou ver uma descrição escrita e detalhada do nascer do sol, no jornal do dia seguinte.

A descrição e a memória podem ser úteis, sem dúvida: mas serão sempre um pálido reflexo do  fato que tentam registrar.  

Por isso, o mais importante, para alguns, é capturar a “sensação espiritual” e não tanto transformar aquela percepção complexa em palavras precisas.   A “sensação” sintetiza tudo.  Para outros, porém, o mais eficiente é dormir com papel e caneta ao alcance da mão, na mesa de cabeceira, e tomar nota das ideias que surgem quando sua consciência está na fronteira entre o sono e a vigília.

Cada um deve experimentar e descobrir o que é mais eficiente em seu caso. Em algumas situações, as imagens e “lições” podem “acordar” o estudante no meio da noite, como se algo nele soubesse que elas devem ser anotadas. [2] 

Vários tipos de ideias, decisões e percepções podem surgir deste modo.   O estudo calmo e regular da teosofia clássica amplia no aprendiz o contato entre os estados de consciência do sono, do sonho e da vigília. As “paredes divisórias” entre a vigília e o sonho se tornam mais finas, o que permite um intercâmbio maior entre as duas dimensões e aprofunda o contato com a alma imortal.

NOTAS:

[1] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”,Ed. Teosófica, Brasília, volume I, Carta 5, página 60. A expressão usada pelo Mahatma é “impressões ao despertar”.

[2] Damodar Mavalankar e William Judge escreveram sobre processos de meditação integral, que ocorrem ao longo das 24 horas do dia. São os mais eficazes. 

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Artigo publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com

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