A Energia da Alma Imortal Nem Sempre Gera
Consequências Imediatas Nos Planos Inferiores
Carlos Cardoso Aveline
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O texto a
seguir foi publicado pela
primeira vez
na edição de março de
2013 do
boletim eletrônico “O Teosofista”.
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Maine
de Biran (esquerda), Félix Ravaisson e Helena P. Blavatsky
Os ciclos
cósmicos estão de algum modo presentes na vida diária. O sono é
equivalente a um brevepralaya, uma pausa no universo individual de
alguém.
A
cada noite, quando passamos pelo sono profundo e experimentamos talvez algum
outro aspecto daquela experiência mais elevada que ocorre além do reino do
nosso eu inferior, somos capazes de transcender (em parte, e por um momento) o
círculo de Maya ou Ilusão.
No
entanto, nem sempre trazemos muita coisa daquela vida para a nossa consciência
diária em estado de “vigília”.
Tanto
o filósofo francês Maine de Biran [1] como Helena P. Blavatsky
mostraram que o Carma, ou Ação, se desenvolve em linhas inter-relacionadas mas
relativamente independentes uma da outra, em níveis diferentes de realidade, e
com variados graus de intensidade.
H.
P. Blavatsky citou as seguintes palavras de Félix Ravaisson, um dos filósofos
franceses que foram influenciados por Maine de Biran:
“A
real existência, a vida da qual toda outra vida é apenas um reflexo imperfeito,
uma pálida representação, é a vida da Alma.”[2]
De
fato, a vida da nossa Alma espiritual nem sempre gera consequências imediatas
nos planos inferiores e mais densos.
É
necessário tempo para que o aprendiz compreenda o mistério setenário de estar
realmente acordado. O progresso é gradual, e mais de uma encarnação é certamente
necessária para que a vida possa tornar-se diretamente setenária nas
múltiplas camadas da sua consciência.
Isto
deve ser levado em conta quando vemos limitações e defeitos em outros
estudantes de filosofia, ou em nós mesmos. Uma vez que as pessoas sejam
sinceras e estejam fazendo um esforço, e enquanto nós mesmos estivermos
tentando o melhor, será sábio lembrar que, embora haja uma relação ativa entre
as linhas cármicas dos diversos níveis de vida, esta relação é sutil e não
imediata. A energia do céu pode exigir um tempo antes de manifestar-se na
terra.
Robert
Crosbie escreveu:
“Quando
consideramos - como é necessário fazer - que as nossas vidas individuais vêm
desde longas eras anteriores e de um passado muito longínquo; e que há um
futuro ilimitado pela frente, e que a nossa existência corporal de hoje é
apenas um pequeno aspecto de um grande Ser contínuo -, nós nos erguemos então
acima do que é temporário, enquanto agimos no temporário; e, vendo melhor as
proporções e relatividades corretas, ficamos menos envolvidos ou perturbados
com ‘o que pode acontecer’. Isso tem grande valor em si mesmo, porque nos dá a
firmeza de um guerreiro na luta. ‘Não esqueça esta lição, o homem espiritual
está no mundo para libertar-se de defeitos. Sua vida externa é só para isso,
por isso todos parecemos estar em desvantagem’. Olhando para a vida deste ponto
de vista, vemos que tudo o que vem até nós constitui uma oportunidade
para ‘o ser humano espiritual’ aproveitar; e encontramos em cada
acontecimento ‘aquela luta gloriosa, pela qual não buscamos, mas que só os
soldados favorecidos pela sorte são capazes de vencer’.”
Podem
ocorrer - em planos mais elevados de consciência - acontecimentos que não são
lembrados em nosso estado de vigília. Mesmo algum iniciado pode não ter
consciência cerebral de tais eventos, segundo Crosbie afirma, citando outro
autor teosófico:
“Vocês
lembrarão que W. Q. J.[3] escreveu: ‘Nenhum de nós, e
especialmente aqueles que ouviram falar do Caminho, ou do Ocultismo, ou dos
Mestres, pode dizer com certeza que não passou ainda por alguma iniciação, com
conhecimento disso. Podemos já ter sido iniciados em algum grau mais
elevado que o sugerido pelo nosso estágio atual, e talvez estejamos
passando por alguma nova provação desconhecida por nós. É melhor considerar que
isso ocorreu, garantindo, porém, que eliminamos todo e qualquer orgulho por aquele
progresso desconhecido que podemos ter feito.’ Todos podemos sentir-nos
reconfortados e encorajados por estas palavras, e talvez elas sejam
especialmente verdadeiras no caso daqueles que estão tomados por um
entusiasmo em relação ao trabalho do Mestre”. [4]
Embora
a ideia de ser algum tipo de ‘iniciado’ seja potencialmente nociva para a maior
parte dos estudantes de teosofia, é um fato que há relativamente pouco tempo
atrás todos nós tivemos experiências diretas em níveis mais elevados de
consciência. O Devachan - a longa e abençoada experiência que ocorre entre duas
vidas físicas - é provavelmente o melhor exemplo disso. A sua proximidade
cronológica com a nossa atual vida em estado de “vigília” - menos de um
século - torna possível compreender a própria substância da vida mais
elevada. Além disso, todos experimentamos estados equivalentes ao Devachan
durante cada boa noite de sono, e William Q. Judge escreveu:
“Em
sonhos nós vemos a verdade e experimentamos as alegrias celestiais. Na vida
física podemos destilar gradualmente aquele orvalho, e trazê-lo para nossa
consciência normal.” [5]
Será
mais fácil compreender os aspectos profundos da vida se adotarmos o ponto de
vista correto diante de um permanente mistério: o que é estar realmente
acordado?
Alguns
indivíduos estão mais despertos para as realidades espirituais
enquanto seus corpos físicos dormem. A recíproca é verdadeira: no estágio
atual da evolução, para muitos o ato de estar fisicamente acordados significa
necessariamente estar espiritualmente adormecidos.
Quando
não prestamos a devida atenção à vida dentro e fora de nós, a nossa consciência
em estado de vigília se torna apenas um sonho ilusório e desorientador. A
chamada “vida física” pode ser vivida como uma forma de sonambulismo. Não são
poucos os cidadãos que sonham acordados, e que, quando acordam, recuperando
finalmente o bom senso, ficam chocados pelo que veem.
Cabe
perguntar, portanto, até que ponto estamos de fato acordados. Segundo a
filosofia esotérica, a verdadeira realidade é mais sutil e muito mais estável
que as condições sempre mutáveis, feitas de sonhos, que reinam na vida
física. Acordar é uma função da sabedoria.
Ao
observar continuamente a nossa relação com o sono, com os sonhos, e com a vida
em estado de vigília, consolidamos o nosso progresso na arte de estar Atentos
ao longo dos diversos estados de consciência que se sucedem, uma e outra vez, a
cada dia de 24 horas.
NOTAS:
[1] “Nouveaux Essais D’Anthropologie”,
em “Oeuvres de Maine de Biran”, Tome XIV, Introductions par Pierre Tisserand et
Henri Gouhier, Presses Universitaires de France, Paris, 1949, 440 pp., ver
pp.195-402.
[2] “Memory in the Dying”, um artigo de
H.P. Blavatsky incluído na coletânea “Theosophical Articles”, H.P.
Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, volume II, 1981. Veja a p. 378. Há uma
menção prévia a Ravaisson alguns parágrafos acima, no texto de H.P.B.
[3] W.Q.J.: William Q. Judge.
[4] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie,
Theosophy Co., Los Angeles, 1945, 415 pp., ver p. 149.
[5] “Letters That Have Helped Me”, William Q. Judge,
Theosophy Co., Los Angeles, 1946, 300 pp., ver p. 37.
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Leia também o
texto “A Osmose Oculta”, de Carlos Cardoso Aveline, que pode ser
encontrado através da Lista de Textos por Ordem Alfabética em www.FilosofiaEsoterica.com
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Artigo originalmente publicado em www.Filosofiaesoterica.com
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1638
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