sábado, 6 de abril de 2013

Limpando as Lentes do Telescópio



Nossa Consciência é um Instrumento de
Percepção Que Deve Ser Cuidado a Cada Dia
 
Carlos Cardoso Aveline
  
 
 
 
 
O filósofo eclético francês Victor Cousin (1792-1867) escreveu sobre a necessidade de conhecer a si mesmo antes de pretender conhecer o mundo. 
 
Na verdade, estes dois níveis da busca de conhecimento estão ligados. Eles influenciam um ao outro. Mas uma auto-observação eficiente é fundamental para que se possa observar a realidade ao nosso redor.  
 
Comentando o diálogo platônico “Primeiro Alcibíade”,  Cousin escreveu sobre a necessidade da autoconstrução e da auto-preparação.
 
Ele disse:
 
“Ignorar a si mesmo é ignorar o único instrumento que se pode usar; é ignorar a medida de suas forças, e por conseqüência, condenar a si mesmo a empregá-las cegamente e expor-se a inúmeros erros de orientação. O conhecimento de nós mesmos é, portanto, a base de todo conhecimento estável. Isto não é tudo: nós tampouco podemos ter ideia alguma da causa primeira ou da substância infinita, se não tivermos uma ideia clara do que é uma causa e uma substância; e esta ideia é algo que ninguém nos pode dar, exceto nós mesmos.”
                   
Em seguida, Cousin acrescentou:
 
“Assim, seja quando observamos as coisas em profundidade, seja quando nos detemos na questão preliminar de toda filosofia sábia, a questão do método, reconhecemos que o estudo da natureza humana é a preparação necessária a todo conhecimento legítimo, e que a psicologia serve de base à ontologia e à própria teologia.” [1]
 
Este enfoque coincide com a visão teosófica. A filosofia esotérica de Helena Blavatsky ensina que a chave do conhecimento do cosmos está na relação direta que existe entre cada indivíduo e o universo. O homem é um resumo do sistema solar.  Cada um de nós é a única luneta, e o único  telescópio oumicroscópio pelo qual podemos olhar para o mundo e compreendê-lo. 
 
A tarefa do estudante de filosofia inclui, portanto, inevitavelmente, a necessidade de observar e compreender como funciona este instrumento de busca da verdade, o seu próprio eu inferior. É preciso regular as lentes desta luneta. É um dever fundamental limpá-las de lixo e pó, para que elas possam refletir a verdade.  
 
Um Pensamento Universal.
 
Cabe registrar que o valor teosófico da vida e da obra de Victor Cousin é inegável.  Combatido pelos jesuítas e pela igreja católica, ele levava em conta os diferentes sistemas filosóficos.  Sua visão é universal. Ele acredita no livre-pensamento. Ele defende a tese de que existe uma sabedoria transcendente e eterna; e afirma que ela deve ser buscada com independência em relação a qualquer organismo religioso. No âmbito da filosofia ocidental, Cousin ajudou a preparar a descoberta gradual de algo que ainda hoje é ignorado por alguns: o fato de que os países do Oriente possuem filosofias de importância inegável, muito mais antigas que a filosofia clássica ocidental. A escola eclética de Cousin foi uma das primeiras da Europa moderna que levaram em conta e valorizaram filosofias como o budismo e a vedanta indiana. [2]
 

NOTAS:
 
[1] “Fragments de Philosophie Ancienne”, Victor Cousin, Didier Libraire-Éditeur, Paris, nouvele edition, 1855, 455 pp., ver pp. 201-202. 
 
[2] Referindo-se à Grécia antiga, Cousin afirmou: 
 
“A língua, a escritura, o alfabeto, os procedimentos industriais, as artes mecânicas, as formas primitivas de governo, o caráter inicial da arte, o culto primitivo, tudo isto é oriental;  é sobre esta base estrangeira que se desenvolveu o espírito grego; este foi o ponto de partida para que se chegasse a esta forma original e admirável que chamamos de forma grega por excelência. Ocorreu o mesmo com a filosofia.” Cousin destaca que na Grécia, como no Oriente, a filosofia estava ligada à religião. [Ver “Introduction a L‘Histoire de la Philosophie” , Victor Cousin,  Didier Libraires-Éditeurs, Paris,  1861, 345 pp, ver pp. 32-33.]  
 
De fato, o principal e mais conhecido discípulo do teosofista eclético Amônio Sacas, de Alexandria, foi Plotino, o autor das Enéadas. O filósofo francês Émile Bréhier, escrevendo nas primeiras décadas do século vinte, mostrou em seus estudos sobre Plotino a identidade entre esta filosofia neoplatônica e os Upanixades hindus. 
 
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 Artigo originalmente publicado em www.FilosofiaEsoterica.com .


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