Presidente dos Estados Unidos
Aplica Princípios da Teosofia Clássica
Carlos Cardoso Aveline
Barack Obama
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Nota
Editorial de 2012:
Atuando com bom senso e
pragmatismo,
o pensador humanista que preside
o país mais
poderoso do mundo fez com que o
militarismo
convencional deixasse de ser
prioridade. Atuando
de modo que nem todos percebem, Barack
Obama
ajuda a preparar as bases éticas
da civilização do futuro.
O texto a seguir mostra as
linhas filosóficas da sua
trajetória até ser eleito pela
primeira vez, no final de 2008.
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“O verdadeiro teosofista não
pertence a nenhum
culto ou seita, e no entanto
pertence a todos eles”.
Robert Crosbie
“Em nossa casa, a Bíblia, o
Alcorão e o Bhagavad
Gita ficavam na prateleira
juntamente com os livros
da mitologia grega, norueguesa e africana. Na
Páscoa ou no Natal [minha mãe] me
arrastava para
a igreja, assim como para templos
budistas, para a
celebração do Ano Novo chinês,
para santuários
xintoístas ou para antigos locais
de rituais havaianos.”
Barack Obama
“Formar o núcleo de uma Fraternidade
Universal da
Humanidade, sem distinção de
raça, credo, sexo, casta ou cor....”
(Primeiro objetivo do movimento teosófico
moderno)
“Os muros entre os velhos aliados
dos dois lados
do Atlântico não podem ficar de
pé. Os muros entre os
países que têm muito e os países
que têm muito pouco não
podem ficar de pé. Os muros entre raças e tribos; nativos e
imigrantes; cristãos e muçulmanos
e judeus, não podem ficar
em pé. Estes são, agora, os muros que nós devemos
derrubar.”
Barack Obama
A teosofia
é uma filosofia planetária e a sua meta
primeira é despertar a compreensão e a vivência da fraternidade universal. Assim como o movimento teosófico, ela é independente de rótulos,
nomes pessoais, ideologias ou organizações. O que define o verdadeiro campo de
ação da teosofia clássica e do seu estudante são fatores muito reais mas intangíveis como a compreensão das leis da
natureza, a consciência ética e uma solidariedade para com todos os seres.
Ter acesso à sabedoria
divina é um assunto de almas e não de corporações ou instituições. William Judge, um dos principais fundadores do
movimento esotérico moderno, escreveu:
“Como o Movimento
Teosófico é contínuo, ele pode ser encontrado em todos os tempos e todas as nações. Onde quer que o pensamento venha lutando para ser
livre, onde quer que as idéias
espirituais tenham sido promulgadas em oposição às formas e ao dogmatismo, lá o
grande movimento pode ser percebido.” [1]
Deste ponto de vista,
um cidadão de boa vontade e visão ampla pode ser considerado um verdadeiro
teosofista, ainda que não seja membro de qualquer agrupação teosófica. Não
importa se ele é cristão, judeu, budista, muçulmano ou
seguidor de outra filosofia. Na
medida em que ele compreende a universalidade da ética planetária, sua vida ajuda a abrir espaço para a percepção
da fraternidade universal, e ele é um verdadeiro teosofista, no plano da alma.
Este parece ser o caso
de Barack Obama, eleito presidente dos Estados Unidos em novembro de 2008, e reeleito em 2012 para
liderar o país mais influente do nosso processo civilizatório. Ao examinar fatos
da vida de Obama e fragmentos dos livros que escreveu, podemos avaliar o grau de afinidade que há entre
ele e a sabedoria universal.
Derrubando os Muros Entre Povos, Raças e Religiões
Em julho de 2008, Barack Obama falou em Berlim, Alemanha, para uma
multidão calculada pelas autoridades policiais em duzentas mil pessoas. Ele abriu
o evento sem precedentes esclarecendo que estava ali na condição de “cidadão
do mundo” - uma expressão que contém
em si mesma a idéia da cidadania planetária e de um mundo sem fronteiras. Ali estava um cidadão em campanha eleitoral
nos Estados Unidos, falando em manifestação de rua em país europeu. No
discurso, Obama formulou a sua proposta de cooperação entre todos os povos. Referindo-se
indiretamente à derrubada democrática do Muro de Berlim, em 1989, ele disse:
“A solidariedade e a cooperação
entre as nações não é uma escolha. É o único caminho, o único caminho, para
proteger a nossa segurança comum e fazer
avançar a nossa humanidade comum. É por
isso que o maior de todos os perigos seria permitir que novos muros nos dividam
uns dos outros. Os muros entre os velhos aliados dos dois lados do Atlântico
não podem ficar de pé. Os muros entre os países que têm muito e os países que
têm muito pouco não podem ficar de pé.
Os muros entre raças e tribos; nativos e imigrantes; cristãos e
muçulmanos e judeus, não podem ficar em pé.
Estes são, agora, os muros que nós devemos derrubar. Nós sabemos que eles caíram antes. Depois de
séculos de conflito, os povos da Europa
formaram uma união promissora e próspera.”
E prosseguiu:
“Aqui, na base de uma
coluna construída para marcar a vitória na guerra, nós nos encontramos no
centro de uma Europa em paz. Muros caíram não só em Berlim, mas eles vieram
abaixo em Belfast, onde os protestantes e os católicos descobriram uma maneira
de viver lado a lado; nos Balcãs, onde a nossa aliança Atlântica terminou as
guerras e apresentou criminosos de guerra à justiça; e na África do Sul, onde a
luta de um povo corajoso derrotou o apartheid. Assim, a história nos faz
lembrar do fato de que os muros podem ser derrubados. Mas a tarefa nunca é
fácil. A verdadeira cooperação e o verdadeiro progresso requerem um trabalho
constante e um sacrifício contínuo. Eles exigem que se compartilhe as
responsabilidades do desenvolvimento e da diplomacia; do progresso e da paz.
Eles requerem aliados que escutam uns aos outros, que aprendem uns dos
outros, e, sobretudo, que confiam uns
nos outros.” [2]
Libertar o Mundo Das Armas Nucleares
Barack Obama
acrescentou:
“Este é o momento em
que devemos renovar a meta de um mundo sem armas nucleares. As duas
superpotências que olhavam uma para a
outra através do muro desta cidade estiveram demasiado perto, por um tempo
demasiado longo, de destruir tudo o que nós construímos e tudo o que amamos. Com
o final daquele muro, nós não necessitamos ficar parados sem fazer nada,
olhando para a proliferação da energia atômica mortal. (...) Este é o momento
de começar a trabalhar em busca da paz de um mundo livre de armas nucleares.”
Depois Obama falou da
necessidade de paz no Oriente Médio, e abordou
a questão da ecologia planetária. Ele disse:
“Este é o momento em
que devemos unir-nos para salvar este planeta. Devemos tomar a decisão de que
não deixaremos para nossos filhos um mundo em que os oceanos se elevam, e a fome se espalha, e tempestades terríveis devastam as nossas
terras. Devemos decidir que todas as nações - inclusive a minha própria -
agirão com a mesma seriedade de propósito que a sua nação [a Alemanha], e
reduzirão o carbono que colocam na atmosfera.[3] Este é o momento em que
devemos devolver às nossas crianças o futuro que pertence a elas. Este é o
momento para agirmos em unidade.” [4]
A Intenção de Refazer o Mundo
Obama parece saber o
que deve fazer. E não pode ser acusado
de possuir metas demasiado pequenas. Filho
de um queniano, e nascido Havaí, ele concluiu o seu primeiro discurso fora dos Estados Unidos com estas palavras:
“Povo de Berlim - povo
do mundo - este é o nosso momento. Esta
é a nossa vez. Eu sei que meu país não tem se aperfeiçoado. (...) Nós temos a
nossa quota de erros. (...) Mas também
sei que (...) durante mais de duzentos
anos, nós temos nos esforçado (...) com outras nações, [por] um mundo com mais
esperança. Nosso compromisso nunca foi
com qualquer tribo ou reino especificamente – na verdade, todas as línguas são
faladas em nosso país; todas as culturas deixaram sua marca na nossa cultura; e
cada ponto de vista é expressado em nossas praças públicas. O que sempre nos
uniu - o que sempre mobilizou o meu povo -
o que atraiu o meu pai para o território norte-americano, é um conjunto
de ideais que correspondem a aspirações compartilhadas por todos os povos: a
crença de que podemos viver livres de medo e de necessidades materiais graves;
de que podemos dizer o que pensamos, e reunir-nos com quem quisermos, e seguir
a religião que acharmos melhor. (...) Povo
de Berlim - e povo do mundo - a escala do nosso desafio é grande. O caminho à
frente será longo. Mas venho dizer a
vocês que somos herdeiros de uma luta por liberdade. Que somos um povo de
esperanças improváveis. Com o olhar voltado para o futuro, com decisão em
nossos corações, que possamos lembrar desta história, fazer frente ao nosso destino e refazer o
mundo mais uma vez.”
Pouco mais de um ano antes
do discurso de Berlim, Obama já tinha uma clareza de metas.
Em fevereiro de 2007, ao
fazer o discurso de lançamento da sua candidatura, ele assumiu um compromisso
com a mudança ética e ecológica em escala
planetária:
“Sejamos a geração que
finalmente liberta a América do Norte da tirania do petróleo. Podemos usar
combustíveis alternativos, produzidos localmente, como o etanol, e aumentar a
produção de carros com mais eficiência energética. Podemos estabelecer um
sistema de fixação de gases que produzem o efeito estufa. Podemos transformar
esta crise de aquecimento global em uma oportunidade para inovar, e para criar
empregos, e para incentivar empreendimentos que servirão de modelo para o
mundo. Sejamos a geração que faz com que as futuras gerações tenham orgulho do
que nós fizemos aqui.” [5]
Sem receio de assumir
metas visionárias - e olhando muito além das eleições norte-americanas -, ele
disse naquela ocasião inaugural:
“E se vocês se somam a
mim nesta luta improvável, se vocês sentem o chamado do destino, e vêem, como
eu vejo, que o momento de acordar e de abandonar o medo é agora, assim como o
momento de pagar a dívida que temos diante das gerações passadas e futuras,
então estou pronto a assumir esta causa e marchar com vocês, e trabalhar com
vocês. Juntos, a partir de hoje, que
completemos o trabalho que necessita ser feito, de trazer para esta Terra um
novo nascimento da liberdade.” [6]
A Regra de Ouro
A proposta de Obama
para os Estados Unidos e o mundo é
acusada por seus adversários de ser vaga e ambígua. Ele chegou a ser
qualificado como “pouco norte-americano”.
A verdade é que Obama tem uma
visão mais complexa e mais profunda do que meras bandeiras eleitorais ou
nacionalistas. A base do seu
discurso é simultaneamente inter-religiosa, ética e filosófica. Está na famosa
Regra de Ouro, um velho princípio da filosofia clássica grega e da antiga sabedoria
oriental, que foi ensinado por Confúcio nos “Analectos” (Livro V, capítulo XI) e
adotado mais tarde pelo cristianismo. Este princípio ético milenar poderia ser
chamado, corretamente, de “lei do bom
carma”.
Obama esclarece:
“No final das contas,
o que se necessita é nada mais, nada menos, que aquilo que todas as grandes
religiões do mundo exigem – que façamos aos outros aquilo que queremos que eles
façam a nós. Devemos proteger o nosso irmão, como a escritura diz. Devemos
proteger a nossa irmã. Devemos encontrar aquele interesse comum que todos temos
uns nos outros, e fazer com que a nossa política reflita este espírito.” [7]
O Espírito de Aloha
Parece haver algo de autenticamente
teosófico na vida real de Barack Obama, que pode explicar por que ele faz
repetidamente uma “valente declaração de princípios”, para usar as palavras da
Escada de Ouro da teosofia de H. P. Blavatsky.
Ele ensina como um mantra alguns dos principais princípios teosóficos,
especialmente o do compromisso com a Ética
Universal presente em todas as religiões.
Mas qual é exatamente a
sua formação, do ponto de vista da sabedoria universal?
Em que atmosfera Obama
foi criado?
Ele nasceu em agosto
de 1961 no Havaí. Não por casualidade a sua vida e suas idéias parecem expressar,
até certo ponto, o espírito de “Aloha”.
A palavra “Aloha” é um verdadeiro mantra sagrado
na cultura havaiana, famosa mundialmente
por sua abertura mental e fraternidade em relação a todos os povos. É uma
saudação e um conceito universalista. O termo é considerado equivalente à
palavra sânscrita “Namastê” (“a divindade em mim saúda a divindade em você”). Mas
também significa “Shalom”, “Paz”, assim como “Compaixão” e “Amizade”.
O chamado “espírito de
Aloha” implica um estado mental de paz consigo mesmo e com todos os seres. A
filosofia, o discurso e a prática de Barack Obama parecem expressar alguma
coisa deste mantra e desta cultura presentes em sua juventude.
Os avós maternos de
Barack, que tiveram um papel central na
educação do garoto, não só viviam no
Havaí com o neto mas foram influenciados
em determinado momento pela Igreja Unitária Universalista. Esta era uma igreja que buscava a confraternização das religiões e
que mantinha laços estreitos com a Sociedade hinduísta Brahmo Samaj. A pensadora russa Helena Blavatsky escreveu
extensamente sobre o movimento Brahmo Samaj, elogiando seu fundador e
criticando os erros cometidos por seus líderes posteriores. [8]
Barack Obama escreveu, sobre seu avô materno:
“Ele gostava da idéia
de que os Unitários estudavam as escrituras de todas as grandes religiões”.
Segundo Barack, o avô
materno considerava que isso era “como ter cinco religiões em uma”. [9]
Avô
Paterno Era Curandeiro Africano
Hussein Onyango Obama,
avô paterno de Barack Obama, foi um curandeiro africano do Quênia. Ele era muçulmano,
tinha poderes de cura e viveu imerso nas tradições da cultura local. [10]
O pai de Barack Obama,
africano e negro, também se chamava Barack. Este foi seu mestre e seu herói. Barack, o pai, deixou na vida de Barack, o filho, uma
presença transcendente e uma influência mítica.
No universo infantil de Barack, o mundo intangível
em que seu pai existia se misturava de algum modo com as origens do cosmo. E
este era mais do que um fato psicológico.
A origem e o destino do universo é um tema central em teosofia. Na
sabedoria esotérica oriental, o assunto se relaciona com o caminho das grandes
iniciações.
Ao longo da sua obra “A
Doutrina Secreta”, H. P. Blavatsky faz um estudo comparado das principais
narrativas da origem do universo e do homem,
mostrando os pontos em comum que há entre os relatos dos caldeus, da
Bíblia judaica e cristã, da Cabala judaica, do Popol Vuh centro-americano, dos Puranas
hindus, e de escrituras muitos outros povos.
Barack Obama enfrentou este tema cósmico em sua infância, junto ao tema
do pai-mito, o pai interior.
Em um dos seus livros ele confessa, não sem humor:
“... O caminho da vida do meu pai ocupava o mesmo terreno
que um livro que minha mãe comprou uma vez para mim, um livro chamado
“Origens”, uma coleção de histórias da Criação de todas as partes do mundo,
histórias de Gênese e da árvore na qual havia nascido o homem, Prometeu e o
presente do fogo, a tartaruga da lenda hindu que flutuava no espaço,
sustentando o peso do mundo sobre as suas costas. Mais tarde, quando fiquei
mais acostumado ao caminho estreito para a felicidade a ser encontrado na
televisão e nos filmes, eu ficava
perplexo com várias questões. Em que se apoiava a tartaruga? Por que motivo um
Deus onipotente permitiu que uma serpente causasse tamanho sofrimento? Por que meu pai não voltava? Mas com cinco
ou seis anos de idade eu estava satisfeito com deixar estes mistérios distantes
intactos...”. [11]
A Mãe Universalista
Foi a mãe de Obama, branca e norte-americana, que lhe transmitiu na vida cotidiana a visão inter-religiosa
e universalista, assim como o hábito diário
do auto-treinamento e da auto-disciplina.
Ela mantinha uma distância crítica das religiões dogmáticas. Ela tinha
isso em comum com a teosofia clássica e original, enquanto a pseudo-teosofia
criada por Annie Besant preferiu criar versões próprias da religiosidade
exotérica, com seus sacerdotes e seus
rituais.
Barack escreve que
seus avós passaram à sua mãe uma combinação de racionalismo com jovialidade, e
acrescenta:
“As próprias
experiências de minha mãe como criança sensível e amiga dos livros, que crescia
nas pequenas cidades do Kansas, Oklahoma e Texas, apenas reforçaram o ceticismo que herdara. As
lembranças dos cristãos que povoavam sua juventude não eram das mais
agradáveis. Ela ocasionalmentese recordava dos pregadores que baniam três
quartos da população mundial por
considerá-los pagãos ignorantes condenados a passar a vida eterna em maldição –
e que insistiam que a terra e o céu foram criados em sete dias , com todas as
provas geológicas e astrofísicas dizendo o contrário. Lembrava-se das mulheres
respeitáveis da igreja, sempre tão rápidas em evitar as pessoas que não
correspondessem aos seus padrões de decência, apesar de elas próprias ocultarem
segredinhos sujos; dos pastores que proferiam epítetos raciais e ludibriavam os
trabalhadores para tirar deles todo o dinheiro que conseguissem.”
Tal mediocridade
“religiosa” não ocorria por acaso.
Há um contexto maior
em torno deste tipo de estreiteza de horizontes, que não é um fenômeno local,
mas constitui na verdade um problema de
escala global, combatido de frente por Helena Blavatsky e alguns outros
teosofistas desde 1875.
A verdadeira
religiosidade não pode ser transformada em prisioneira de uma instituição ou
ritual, nem pode distanciar-se por um
momento da filosofia ou da ciência. Ela deve, isto sim, avançar interdisciplinarmente,
unida ao livre-pensamento.
Na famosa Carta 88 de “Cartas
dos Mahatmas” (Editora Teosófica,
Brasília, dois volumes) , um mestre dos Himalaias - um raja-iogue
- afirma que dois terços do
sofrimento humano são causados pela
falsidade e pelas ilusões provocadas pelas religiões dogmáticas e
sacerdotais.
A narrativa de Barack
Obama prossegue:
“Para minha mãe, a
religião organizada muito frequentemente esconde sua mentalidade limitada sob o
manto da piedade; e a crueldade e a opressão, sob o da honestidade. Mas isso não quer dizer que ela não me
transmitiu valores religiosos. Para minha mãe, o conhecimento de pontos
importantes das grandes religiões do mundo era uma parte necessária de uma
educação impecável. Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad Gita
ficavam na prateleira juntamente com os livros da mitologia grega, norueguesa e africana. Na Páscoa ou no Natal
[minha mãe] me arrastava para a igreja, assim como para templos budistas, para
a celebração do Ano Novo chinês, para santuários xintoístas ou para antigos
locais de rituais hawaianos. Mas fui educado para entender que isso não exigia
nenhum compromisso de longo prazo da minha parte, nenhum esforço introspectivo
maior ou autoflagelação. Para minha mãe, a religião era uma expressão da
cultura humana; ela não explicava a origem da humanidade, era apenas uma das
muitas formas – e não necessariamente a melhor maneira – de o homem tentar
controlar o desconhecido e entender as mais profundas verdades sobre nossa
vida. Em suma, minha mãe via a religião
pelos olhos da antropóloga que ela viria a ser; era um fenômeno a ser tratado
com respeito, mas também com desapego.” [12]
Obama afirma ainda, a
respeito de sua mãe e instrutora:
“E, apesar do seu
secularismo, minha mãe era de muitas formas a pessoa mais espiritualizada que
conheci. Tinha um instinto inabalável
para a bondade, a caridade e o amor, e passou grande parte da sua vida agindo
de acordo com estes instintos, às vezes em detrimento de si mesma. Sem a ajuda
de textos religiosos ou autoridades externas, trabalhou muito para transmitir a
mim os valores que muitos norte-americanos aprendem na escola dominical:
honestidade, empatia, disciplina, capacidade de postergar a gratificação
pessoal e trabalho duro. Enfurecia-se
com a pobreza e a injustiça, e desprezava aqueles que eram indiferentes a ambas.”
[13]
Uma Visão Racional
Barack construiu sua
vida sobre este alicerce filosófico e emocional, intelectualmente profundo mas também inseparável de atitudes práticas e
concretas.
Em suas obras, o
leitor encontra passagens em que ele faz, de várias formas, uma declaração
de princípios. Não é difícil
perceber que o raciocínio de Barack está baseado em uma visão ampla e universal que pode ser considerada claramente
teosófica no sentido clássico da palavra.
Ele afirma:
“... Dada a
diversidade crescente da população norte-americana, os perigos do sectarismo
nunca foram maiores. O que quer que já
tenhamos sido, não somos mais apenas uma nação cristã; somos também uma nação
judaica, muçulmana, budista, e uma nação de descrentes.”
E prossegue:
“Mas presumamos que só
tivéssemos cristãos dentro dos limites das nossas fronteiras. Que cristianismo
ensinaríamos nas escolas? (....) Que
passagens do Evangelho deveriam guiar nossa política pública? Deveríamos
seguir o Levítico, que sugere que não há nada de errado com a escravidão e que
comer moluscos é uma abominação? E quanto ao Deuteronômio, que sugere apedrejar
seu filho caso ele se desvie da fé? Ou
deveríamos nos limitar apenas ao Sermão da Montanha – uma passagem tão radical
que é duvidoso que nosso Departamento de Defesa sobrevivesse à sua aplicação?”
Para Obama, a crença
cega na letra morta deve ser abandonada. Os princípios essenciais devem ser
percebidos, e eles estão além das formas visíveis. Barack conclui propondo a
opção pelo bom senso:
“O que nossa
democracia deliberativa e pluralista exige é que pessoas motivadas
religiosamente traduzam suas preocupações para valores universais, não
determinados pela religião. Isto exige que suas propostas estejam sujeitas a
discussões e abertas à razão.” [14]
O Presidente Não Faz Milagres
Como presidente dos
Estados Unidos, Obama não fez muitos milagres visíveis.
Atuando sob o carma - isto é, dentro das limitações históricas do seu
momento - ele produziu um clima
internacional que leva a um respeito crescente pela paz e pelos modos
não-violentos de resolução de conflitos.
A euforia militarista
de tempos anteriores foi abandonada. Ele ajudou a construir uma atmosfera em
que o diálogo é possível. Além das suas palavras, que são claras, Obama realiza
com eficácia silenciosa outras tarefas intangíveis e “invisíveis”.
É verdade que os seus críticos mais míopes - capazes de enxergar apenas o que é pequeno e que
está imediatamente diante dos seus narizes - se comprazem em exagerar as limitações do trabalho de Obama no curto prazo do plano
material e econômico. Enquanto isso, atuando como estadista e líder mundial, ele ajuda a construir as premissas éticas e as
bases humanísticas da civilização do futuro.
O próximo passo
evolucionário da comunidade internacional é o respeito comum pela paz, pela
ética e pela justiça, e esta meta deve ser mantida viva ao longo da vida
diária. Em setembro de 2011, Obama disse em um discurso na Assembléia Geral das
Nações Unidas:
“É da natureza do
nosso mundo imperfeito que nós sejamos forçados a aprender estas lições uma e
outra vez. Os conflitos e a repressão irão ocorrer enquanto algumas pessoas se
recusarem a agir em relação aos outros como elas gostariam que os outros
agissem em relação a elas. No entanto é exatamente para isso que nós
construímos instituições como esta - para unificar os nossos destinos, para
tornar mais fácil que reconheçamos a nós próprios uns nos outros - porque
aqueles que vieram antes de nós acreditavam que a paz é melhor que a guerra, a liberdade
é melhor que a opressão, e a prosperidade é melhor que a pobreza. Esta é a
mensagem que vem, não das capitais, mas dos cidadãos, do nosso povo. E quando a
pedra fundamental deste mesmo edifício [das
Nações Unidas] foi colocada, o presidente [Harry] Truman veio aqui a Nova Iorque e disse: “As Nações Unidas
são essencialmente uma expressão da natureza moral das aspirações humanas.” A
natureza moral das aspirações humanas. Vivendo hoje num mundo que muda a um
ritmo de tirar o fôlego, esta é uma lição que não devemos jamais esquecer. A
paz é difícil, mas sabemos que é possível. Então, tomemos juntos a decisão de fazer
com que nossa atitude diante da paz seja definida pelas nossas esperanças e não
pelos nossos medos. Juntos, façamos a
paz, mas uma paz, e isso é o mais importante, que irá durar.” [15]
NOTAS:
[1] “Theosophical Articles”, William Q. Judge, The
Theosophy Co., Los Angeles, 1980,
edição em dois volumes, ver vol. II, p. 124.
[2] “Change We Can Believe In - Barack Obama’s Plan to Renew America’s
Promise”, livro com o programa de governo e sete discursos
de Obama, publicado por Three Rivers
Press, New York, 2008, 274 pp., ver pp.
265-266.
[3] A Alemanha é um dos países do mundo em que há mais consciência ambiental.
A própria Chanceler Angela Merkel tem
uma longa trajetória pessoal de compromisso com a preservação do meio ambiente.
[4] “Change We Can Believe In”, obra
citada, p. 267 a 269.
[5] “Change We Can Believe In”, obra
citada, pp. 198-199.
[6] “Change We Can Believe In”, obra
citada, pp. 201-202.
[7] “Change We Can Believe In”, obra citada,
p. 228.
[8] Veja, por exemplo, “The Collected Writings”, Helena Blavatsky, TPH, Índia, volume III, pp.
55-61 e pp. 286-287. E também “The Collected Writings”, volume IV, pp. 439-443, entre outros textos.
[9] “Dreams From My Father”, Barack Obama, Three Rivers Press, 1995 e 2004, New York, 458 pp., ver p. 17.
[10] “Dreams From My Father”, Barack Obama, obra citada, ver p. 09.
[11] “Dreams From My Father”, obra citada,
p. 10.
[12] “A Audácia da Esperança”, Barack Obama, Larousse do Brasil, SP, 2007,
400 pp., ver pp. 221, 222. Nesta citação, segui a edição original em língua
inglesa nos casos em que a versão brasileira está inexata. Em inglês, ver “The Audacity of Hope”,
Three Rivers Press, 376 pp., 2006, pp.
203-204.
[13] “A Audácia da Esperança”, obra citada, p. 223. Na edição em inglês, p.
205.
[14] “A Audácia da Esperança”, obra citada, pp.
236-237.
[15] “Remarks by President Obama in Address to the
United Nations General Assembly”, Nações Unidas. Link: http://www.whitehouse.gov/the-press-office/2011/09/21/remarks-president-obama-address-united-nations-general-assembly.
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O artigo acima foi publicado pela primeira vez em novembro de 2008 em
www.FilosofiaEsoterica.com e websites associados, e atualizado em 2011 e
2012. Em novembro de 2012, foi publicada a sua versão em inglês, intitulada
“The Theosophy of Barack Obama”.
Visite sempre www.Filosofiaesoterica.com ,
www.TeosofiaOriginal.com e www.VislumbresdaOutraMargem.com
.
Para ter acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte como é possível acompanhar o
trabalho do e-grupo SerAtento.
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Texto originalmente publicado em www.FilosofiaEsoterica.com .
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=628#.UJsCbOToSpU
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