quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Transmissão da Teosofia

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De Que Modo o Estudante
Acelera Sua Aprendizagem
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Carlos Cardoso Aveline
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Tudo o que fazemos aos outros retorna
para nós: por isso, o caminho da felicidade
é trilhado desenvolvendo ações altruístas.
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Há um momento na vida do estudante de filosofia em que ele distingue, ainda palidamente, o que é correto e verdadeiro para si. Esta conquista é um primeiro passo.
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A etapa seguinte é testar na prática a percepção adquirida, e é neste ponto que surge a necessidade de perseverança. A nova visão ganhará força real em sua vida à medida que ele fizer tentativas sucessivas de colocá-la em prática.
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Com o tempo, haverá um pequeno êxito. Ao observar uma e outra vez os resultados dos seus esforços, o aprendiz saberá com nitidez o que é de fato verdadeiro e correto para si próprio.
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Só os charlatães pintam o caminho espiritual como algo fácil. Mas a dificuldade da meta espiritual não é motivo para desânimo. Entre ver um ideal e vivenciá-lo há uma distância significativa: porém, tal distância é estimulante. Visualizar uma meta é perceber algo que está a certa distância de nós, e para o qual é possível caminhar. A distância entre o sonho e a prática provoca o aprendizado. A diferença entre o sonho e a realidade implica que há um sonho nobre a ser buscado a longo prazo.
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Cabe examinar, sem pressa e com espírito prático, de que modo se pode percorrer o caminho que vai desde a nítida percepção do que é correto até a vivência direta do ideal escolhido.
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É conveniente começar com a constatação de que devemos plantar ativamente o que desejamos colher. Ninguém é uma ilha cármica. Tudo e todos se inter-relacionam o tempo todo, nos vários níveis de consciência. No todo energético da vida planetária, se não emitirmos nossa energia, ela não será confirmada. Por isso Robert Crosbie escreveu:
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“Uma vez que as ideias corretas estão estabelecidas em nossas mentes, nós podemos ajudar o mundo falando sobre elas e exemplificando-as. Isso é algo que nós podemos fazer, por mais egoísta que seja o modo do mundo se movimentar.” [1]
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Quando compreendemos algo profundamente, o próximo passo é “emitir o mantra” e irradiar aquele padrão vibratório em direção ao mundo, através de ações e palavras. Deste modo o confirmamos em nossas próprias vidas. É preciso largar as muletas para trilhar o caminho por mérito próprio. Uma postura ativa diante do conhecimento sagrado deve ser adotada desde o início. Quando o discípulo está pronto, ele percebe que a inspiração superior estava presente o tempo todo. A pedagogia correta combina desde o primeiro passo três fatores fundamentais da aprendizagem: estudo, prática, e testemunho.
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A Lição do Rabino Hillel
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Há um tempo para aguardar, mas há um tempo para avançar.
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Quando o filhote de pássaro amadurece, ele se lança para fora do ninho cômodo da rotina, e testa na prática o seu conhecimento da arte de voar. É assim que aprende a conhecer a sua própria força. Quanto à necessidade de uma decisão clara sobre nossa meta na vida, o rabino Hillel ensinou:
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“Se eu não for por mim, quem será por mim? Mas se eu for só por mim, o que sou eu? E se não agora, quando?” [2]
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A filosofia teosófica deve ser o leme que orienta o estudante na vida diária. Falar dela significa expressar a si mesmo e ser sincero com as pessoas. Para o escritor chinês Lin Yutang, “escrever é dar expressão à natureza própria de cada um, ou ao seu caráter, e ao jogo do seu espírito vital”. [3] O mesmo pode ser afirmado sobre o ato de falar.
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Quando transmitimos a filosofia teosófica para o mundo ao nosso redor, podemos avaliar e fortalecer o nosso pensamento. Irradiando-a, criamos circunstâncias mais favoráveis para nosso próprio crescimento individual. As condições mais favoráveis raramente são as mais cômodas, porque, para germinar, toda semente deve romper a sua própria casca.
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Não há vitória sem renúncia, ou perda. À medida que o eu superior desperta, o eu inferior - a casca da semente - perde força.
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Transmitir Não é “Evangelizar
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A boa lei do carma é a lei da vida. Tudo o que fazemos aos outros retorna para nós: por isso, o caminho da felicidade é trilhado desenvolvendo ações altruístas.
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Se a teosofia é benéfica, ela deve ser promulgada. Aprender e ensinar teosofia são dois fatos inseparáveis. O conhecimento só cresce quando o colocamos em movimento. É vivenciando, ensinando e transmitindo que se aprende filosofia esotérica. Mas como será possível divulgar a teosofia, sem parecer que estamos querendo evangelizar as pessoas, ou dominá-las mentalmente?
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Sem dúvida, o ato de falar de teosofia pode parecer “evangelização” para alguns. O teosofista não será corretamente compreendido por todos. No entanto, o ato de dar o seu testemunho de vida para as pessoas ao redor terá consequências positivas no momento certo.
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O carma não amadurece de imediato: a ação teosófica deve ser feita em uma perspectiva de longo prazo. Quando as circunstâncias estiverem maduras, o processo da transmissão passará a ser realimentado de forma positiva. Então o magnetismo se acumulará criativamente, e surgirá um trabalho teosófico coletivo. 
A chave da eficiência está em “emitir o sinal” sem esperar resposta fácil das circunstâncias imediatas, mas deixando que as pessoas certas se aproximem à sua própria maneira do “mantra”. Isso ocorrerá pelo critério da afinidade e no devido momento.
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O teosofista deve dar seu testemunho. Deve compartilhar com os outros o modo como vê a vida. Deve ensinar que tudo na vida é aprendizagem. Assim ele emitirá um sinal de luz para aqueles que aguardam - até sem saber - pelo alargamento radical de horizontes que a teosofia provoca.
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Neste processo, deve ser esclarecida a diferença entre “dar o seu testemunho” e “evangelizar” os outros. A chamada “evangelização” ou “pregação pastoral” é um processo pelo qual alguém diz a alguém o que deve pensar e no que deve acreditar. A própria palavra “evangelização” implica a ideia de “introduzir o evangelho na cabeça de alguém”, o que significa violência intelectual, ainda que bem intencionada. A teosofia, ao contrário, convida as pessoas a pensarem por si mesmas sobre a vida e o universo.
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A evangelização é um chamado a parar de pensar e “acreditar”. A teosofia é um chamado a começar a pensar de fato, o que exige abandonar rotinas. A filosofia esotérica respeita e estimula a autonomia do aprendiz.
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Algumas Possibilidades de Ação
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O que o estudante da teosofia original faz é colocar o saber filosófico ao alcance daqueles que estiverem prontos para o despertar.
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O modo como fará isso no plano físico depende da sua criatividade, da sua perseverança, e das circunstâncias em que vive e trabalha. Vejamos alguns exemplos:
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*Ele pode fazer pequenos cartazes de divulgação do trabalho teosófico e pregá-los em lugares visíveis, na sua cidade.
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*Ele pode enviar material teosófico por e-mail para amigos e conhecidos.
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*É possível convidar familiares, colegas e amigos para estudar juntos um bom texto teosófico.
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*Está a seu alcance começar a qualquer momento um diálogo com qualquer pessoa, de qualquer idade, abordando impessoalmente temas vivenciais que lhe permitirão não só evitar conversas fúteis, mas também praticar a auto-expressão, partilhando com os outros o que há de melhor em si e colocando em movimento sua visão universal da vida.
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*Ele deve indicar e preservar as fontes do ensinamento. No diálogo com os outros, deve colocar-se como um co-aprendiz, evitando toda pose de mestre. Assim não dará passos em falso.
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É errado pretender interferir diretamente na vida das pessoas. Cada um deve decidir por si. É correto colocar diante delas a filosofia teosófica e a sua visão da alma imortal. A teosofia convida as pessoas a examinarem por si mesmas algumas questões básicas. Entre elas:
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1) Qual será a meta da vida, se não for a felicidade?
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2) Ilusões à parte, até que ponto eu sou feliz?
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3) O que é que eu realmente preciso, para obter mais paz?
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4) Estou vivendo da maneira mais correta?
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5) Quais são as fontes internas do meu sofrimento?
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6) Por que o altruísmo traz felicidade? De que modo?
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7) Como funciona, na prática, a lei do carma e da reencarnação?
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A Confiança Torna Possível a Transmissão
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Para transmitir teosofia como um processo vivo é necessário ter uma quantidade suficiente de confiança na vida, de confiança em nós mesmos, e de confiança no ensinamento.
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Quando é que o ser humano confia? Ele confia quando tem conhecimento e experiência em relação ao objeto da confiança. Mas a recíproca é verdadeira: o ser humano também ganha experiência e conhecimento quando tem confiança suficiente para falar aos outros sobre seus pensamentos, e coragem de colocar à prova no diálogo as suas ideias. Não podemos confiar no conhecimento enquanto não conversamos sobre ele com os outros, e enquanto não o colocamos em ação.
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A confiança no ensinamento está ligada à confiança em si mesmo. Como se sabe, a autoconfiança surge do autoconhecimento. O verdadeiro autoconhecimento é o conhecimento que o eu inferior adquire sobre sua própria alma imortal. Para alcançá-lo, o bom senso e a moderação são indispensáveis.
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O indivíduo sensato examina com calma a vida e decide que coisas são sólidas e confiáveis para si. Ele confia nos seus bons sentimentos e nos bons sentimentos dos outros, mas também sabe que tais sentimentos são mutáveis e imperfeitos.
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Ele confia na sua própria capacidade de raciocinar. Sabe que comete erros com frequência, mas percebe que pode aprender com eles. Sente também que tem dentro de si a essência da verdade, ainda que viva em um mundo em que a ilusão está muito presente. Sabe que, quando ouve sua consciência, fica internamente satisfeito. Ele avança pelo método científico da tentativa e do erro, seguidos de nova tentativa. Ele desenvolve um enfoque experimental diante da filosofia esotérica. Ele vive o seu sentimento de confiança como algo que é sujeito a um contínuo exame crítico.
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Em teosofia, a confiança não tem valor quando separada do discernimento e da responsabilidade própria. O mesmo se aplica ao conceito de lealdade. Na China antiga, o sábio Confúcio disse:
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“O homem sábio é leal de modo inteligente, e não de modo cego.” [4]
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Um Mestre dos Himalaias escreveu que três palavras resumem o Caminho: autoconhecimento, auto-respeito e autocontrole. Destas características surge naturalmente a verdadeira autoconfiança.
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O Ensino Pelo Exemplo
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O caminho teosófico pode e deve ser trilhado mais em silêncio do que no mundo das palavras, e, portanto, o ensino pelo exemplo tem uma importância decisiva. Sem o exemplo não seria possível transmitir conhecimento. As ações falam com tanta força ou mais do que as palavras. Nenhum discurso pode ser mais forte do que a prática diária da qual ele emerge. Não é necessária perfeição, mas o auto-aperfeiçoamento é fundamental: o esforço na direção correta transmite força às palavras.
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Dar um bom exemplo não significa que alguém será aplaudido, porque a busca da sabedoria contraria as rotinas estabelecidas.
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Nem sempre o exemplo de uma vida sábia será reconhecido como tal. O vegetariano está sujeito a críticas pelo mero fato de abster-se de comer cadáveres de animais inteligentes. Quem decide parar de ingerir bebidas alcoólicas talvez seja considerado anti-social. Separar algumas horas por dia para estudos filosóficos provavelmente irá contrariar hábitos familiares. Aquele que fala de carma, reencarnação e teosofia talvez seja acusado de ter ideias excêntricas.
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É preciso coragem para seguir a voz da consciência e dar o seu testemunho. Uma saudável indiferença a críticas injustas é parte do autotreinamento. Pode haver dez pessoas criticando e uma pessoa que sintoniza com as ideias teosóficas. Mas a crítica é geralmente superficial, enquanto que a sintonia é profunda, e por isso tem mais valor que a soma das reações negativas. Também é possível que em algum momento haja centenas ou milhares de pessoas sintonizadas com o trabalho e nenhum crítico ou adversário. Porém, é melhor não apegar-se a situações agradáveis.
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Além do exemplo individual, o estudante pode compartilhar com outros a fonte do seu aprendizado. Em algum momento da caminhada, ele sente que, assim como a filosofia teosófica chegou até ele e o libertou de um determinado grau de sofrimento, também é possível fazer com que o conhecimento chegue a mais pessoas. Desta compreensão emerge a ideia de passar adiante, como um presente, aquilo que recebeu de graça. É uma forma de devolução: o estudante dá de volta à Vida aquilo que a Vida lhe deu.
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O exemplo é a base da transmissão. O exemplo não é suficiente, porque um edifício não é feito apenas dos seus alicerces, mas ele é indispensável. E é quando fazemos algo pelo despertar de outros que começa o verdadeiro aprendizado. Porém nenhum autor sério disse jamais que os primeiros passos são fáceis. O caminho do movimento esotérico autêntico não é uma estrada asfaltada a ser percorrida com rapidez.
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Observar a Intenção
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O plantio de altruísmo e a sabedoria em si mesmo e nos outros é uma tarefa que requer paciência. Devemos examinar a substância da nossa motivação pessoal e da intenção real do grupo teosófico de que participamos.
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Ao abordar a ação coletiva, Helena Blavatsky escreveu:
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“Para a expansão do movimento teosófico - um canal útil para a irrigação dos campos ressequidos do pensamento contemporâneo com as águas da vida - Lojas são necessárias em todo lugar. Não meramente grupos de simpatizantes passivos, tais como os exércitos adormecidos de freqüentadores de igrejas, cujos olhos estão fechados enquanto o ‘demônio’ varre o chão; não, isso não. São necessárias Lojas ativas, profundamente despertas, dedicadas, inegoístas, cujos membros não estarão revelando constantemente o seu próprio egoísmo ao perguntar: ‘o que é que nós ganhamos ao aderir à sociedade teosófica, e em que isso pode nos prejudicar?’; mas estarão examinando a seguinte questão: ‘será que nós podemos ajudar substancialmente a humanidade ao trabalhar por esta boa causa com todos nossos corações, nossas mentes, e nossas forças?’.” [5]
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A nossa compreensão da vida aumenta radicalmente quando passamos a trabalhar com altruísmo, e buscamos transmitir o conhecimento das leis universais deixando de lado toda expectativa de recompensa pessoal.
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A recompensa ocorre quando não pensamos nela: é o auto-esquecimento que abre o caminho para a felicidade.
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NOTAS:
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[1] “A Book of Quotations From Robert Crosbie, Theosophy Co., Mumbai, India, 108 pp., ver p. 52.
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[2] Rabino Hillel, citado em “A Ética do Sinai”, Livraria e Editora Sêfer, SP, 1998, 522 pp., ver pp. 54-55.
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[3] “La Importancia de Vivir”, Lin Yutang, Editorial Sudamericana, Buenos Aires, décima edición, Julio de 1945, 593 pp., ver página 515.
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[4] “The Analects”, Confucius, Dover-Thrift Editions, Dover Publications, Inc., New York, 1995, 128 pp., Livro XV, p. 96.
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[5] “Lodges of Magic”, artigo publicado em “Theosophical Articles”, de H. P. Blavatsky, coletânea em três volumes, Theosophy Co., volume I, ver p. 290.
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Sobre a proposta original do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a lei da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
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A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de 2013 por “The Aquarian Theosophist”. O volume pode ser comprado através de Amazon Books.
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Para saber mais sobre o projeto de ação do movimento teosófico original em língua portuguesa, escreva a lutbr@terra.com.br.
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Para ter acesso a um estudo diário de teosofia clássica, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
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